Impresso, e-book ou audiolivro: como o cidadão do futuro vai ler? 6n6g4w

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Brasileiros estão lendo cinco livros por ano, aponta Retratos da Leitura. Como serão as novas gerações?

O “brasileiro ainda lê pouco e mal”. Esse é o título do artigo publicado no site da Universidade da Amazônia (Unama), em 2019, que versa sobre o hábito da leitura no Brasil.

Felizmente, no ano seguinte, a 5a edição da Pesquisa Retratos da Leitura, desenvolvida pelo Instituto Pró-livro, revela que a média de leitura do brasileiro ou de 4,96 para 5 livros por ano, inteiros ou em parte.

Em meio a tantas opções, leitores ainda são adeptos do formato impresso, mas e-book e audiobook já fazem parte do dia a dia- Foto: Leo Munhoz/NDEm meio a tantas opções, leitores ainda são adeptos do formato impresso, mas e-book e audiobook já fazem parte do dia a dia- Foto: Leo Munhoz/ND

Leitor ou não leitor, eis a questão 3c624s

Antes de aprofundar os motivos do acanhado, mas significativo aumento de livros lidos, é importante compreender a definição de leitor.

Segundo o Instituto Pró-Livro, “leitor é aquele que leu, inteiro ou em partes,pelo menos um livro nos últimos três meses”.

Assim, o não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos três meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses. Para o historiador e professor brasileiro Leandro Karnal, participar de uma comunidade leitora é essencial para o desenvolvimento do hábito e do gosto pela leitura.

A fala do também escritor é corroborada pelo levantamento já mencionado, tendo em vista que os professores (52%) e a família (32%) aparecem como grandes incentivadores da prática leitora.

Mas, afinal, o que a leitura representa para os brasileiros? O leitor de hoje é mais assíduo do que o de ontem e menos do que o de amanhã? Com tanta variedade de obras e es, por que dizem que o Brasil ainda lê pouco? As respostas para esses questionamentos requerem uma análise do atual perfil do leitor brasileiro.

O leitor brasileiro: gênero, idade, região e barreiras 5n263x

De acordo com os dados coletados pela pesquisa Retratos da Leitura (2020), os leitores brasileiros são, em sua maioria, mulheres (54%), moradoras das regiões Sul (58%) e Sudeste (42%).

Os índices em questão não geram surpresa, pois vêm sendo uma constante desde as últimas edições do levantamento.

A faixa etária, no entanto, apresenta recortes interessantes em relação ao período anterior da amostragem: entre as crianças que se encontram nas fases iniciais da caminha da escolar (5-10 anos), houve um aumento de quatro pontos percentuais.

Além disso, o maior índice de leitores continua concentrando-se entre crianças de 11 e 13 anos de idade.

Por outro lado, dos 14 em diante, há uma queda em todos os intervalos etários, em especial entre estudantes do final do Ensino Fundamental 2 e Médio (14-17) e ingressantes no Ensino Superior (18-24).

Juntos, esses segmentos representam uma queda de 16 pontos percentuais e revelam que a frequência de leitura vai diminuindo com o avanço da idade adulta, principalmente em virtude da falta de tempo, como afirmam 47% dos entrevistados.

Cabe destacar, ainda, que 82% da amostragem afirmou que gostaria de ter lido mais nos últimos anos. Entretanto, o preço dos livros, a ausência de bibliotecas próximas e a falta de o à internet estão entre as principais justificativas para que o hábito da leitura não tenha se solidificado entre os respondentes da pesquisa.

Apesar da internet figurar entre os principais fatores de impedimento para a leitura frequente, estudos recentes desenvolvidos pela Sortlist apontam que o brasileiro a mais de 154 dias navegando pela grande rede.

Disputando espaço com os exorbitantes catálogos das mais variadas plataformas de streamings e com os infinitos conteúdos publicados por influenciadores nas principais redes sociais, a leitura online acaba sendo deixada de lado.

Vale frisar, no entanto, que apesar de o Brasil ocupar o segundo lugar no ranking de uso da internet, mais de 40 milhões de brasileiros estão fora do ciberespaço, como afirma a Abranet (Associação Brasileira de Internet), a partir de estudos levantados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Tais dados evidenciam o grande paradoxo tecnológico existente no país, corroborado pela pesquisa Retratos da Leitura, que afirma que mais de 47% dos mais de 8 mil entrevistados nunca ouviram falar dos livros digitais, os chamados e-books.

O destino da leitura será mesmo o universo digital? 3h5u69

Em julho de 1971, o americano Michael Hart decidiu digitar a Declaração da Independência dos Estados Unidos para disponibilizá-la para outros usuários da rede mundial de computadores.

Idealizador do Projeto Gutenberg, que busca disseminar a cultura por meio da digitalização de livros, Hart é considerado o pai do livro digital.

O e-book (abreviação da expressão em inglês eletronic book) nasceu a partir do surgimento e do desenvolvimento de novas tecnologias, que acompanham a evolução do homem.

Desde a invenção do papiro, “o processo de produção do livro mudou, culminando nas publicações digitais, exigindo adaptações aos novos formatos a ele atrelados”, como afirma a pesquisadora Juliani dos Reis, em seu artigo publicado no 19o Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (2016).

Entre as principais vantagens dos e-books está a adaptação aos diversos tipos de es: smartphones, tablets, computadores e leitores digitais, como Kindle, Kobo e Lev.

Além disso, esse novo formato de leitura abriu espaço para que escritores independentes pudessem divulgar suas obras.

O Wattpad, por exemplo, plataforma de livros digitais fundada por Allen Lau e Ivan Yuen, conecta mais de 90 milhões de leitores e escritores.

Desde a sua criação em 2006, a rede social para leitores tirou do anonimato autores que hoje são grandes conhecidos do público. A norte-americana, Anna Todd, autora da série After, teve mais de 1 bilhão de visualizações no Wattpad.

Publicada no Brasil pela Editora Paralela, a obra virou filme e possui nota 5 no Prime Video, plataforma de streaming da Amazon.

No Brasil, Camila Moreira e Rô Mierling são alguns dos nomes que saíram do Wattpad para grandes editoras,como Suma das Letras e Darkside Books.

Apesar do número de leitores digitais ter crescido expressivamente de 2015 a 2019, como aponta o Instituto Pró-Livro, o formato preferido dos leitores ainda é o impresso (67%).

No entanto, os e-books correspondem a 17% do interesse dos leitores atuais e 16% afirmam que ambos os tipos de leitura fazem parte do seu dia a dia.

Cabe acrescentar que os audiobooks também aram a fazer parte da vida dos brasileiros. A plataforma Tocalivros, por exemplo, já tem em seu acervo mais de 15 mil e-books, sendo 2.500 em áudio.

Por sua vez, o Audible, aplicativo de áudio livros da gigante Amazon, oferece aos usuários mais de 400 mil audiobooks e podcasts.

Estilos literários e autores mais lidos pelos brasileiros 3cj23

Independentemente do e preferido e da quantidade de leituras realizadas, os brasileiros de hoje têm mais contato com o universo literário do que há 20 anos.

Desde a primeira edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, em 2001, o o a novos gêneros e autores vem mudando e crescendo gradativamente.

No levantamento de 2007, por exemplo, os livros mais lidos eram os didáticos, os romances e as obras da literatura infantil, respectivamente nessa ordem.

Entretanto, com o ar dos anos, as obras escolares deram espaço à literatura, por meio de livros de contos, poesias, crônicas e romances.

Isso mostra que a chamada “leitura por obrigação” – aquela “imposta” pela escola – vem sendo substituída pelo interesse do leitor, que ou a buscar suas próprias leituras.

Tal afirmação pode ser corroborada pelo Instituto Pró-Livro, que aponta que 52% dos entrevistados, em 2019, afirmaram que o incentivo para ler outras obras surgiu a partir da indicação da escola ou de um professor.

De todos as preferências leitoras entre os brasileiros, a que parece não se alterar com o tempo, é o interesse pela Bíblia. A leitura da escritura religiosa é uma constante em todas as edições da pesquisa, figurando sempre nas primeiras posições dos rankings.

Com relação aos títulos mais lidos nos últimos anos, o Top 5 reúne as seguintes obras: 1: Bíblia; 2: A Cabana (William P.Young); 3: O Pequeno Príncipe(Antonie de Saint-Exupéry); 4:Turma da Mônica (Maurício de Souza) e 5: A culpa é das estrelas (John Green).

Clássicos da Literatura Brasileira, como Dom Casmurro (Machado de Assis),a Moreninha (Joaquim Manoelde Macedo) e Iracema (José de Alencar) figuram entre os menos lidos.

Em números absolutos,esses títulos foram citados, respectivamente, por 33, 25 e 20 dos mais de 8 mil entrevistados.

Sobre os autores citados na pesquisa, curiosamente, Machado de Assis, que escreveu obras mundialmente famosas,como Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), O Alienista(1882) e Quincas Borba (1891),aparece no topo do ranking,seguido por Monteiro Lobato (O Sítio do Pica-Pau Amare-lo), Augusto Cury (O código da inteligência), Maurício de Souza (Turma da Mônica) e Jorge Amado (Capitães da Areia).

Bienal do Livro incentiva e fomenta o consumo zq16

De acordo com a última edição do levantamento Retratos da Leitura, 86% dos respondentes afirmaram que não participaram,nos últimos 12 meses, de eventos literários, como feiras e bienais.

Aqui, cabe salientar que a pesquisa foi realizada em 2019. Mas com a vinda da pandemia do coronavírus no início de 2020 e com seu auge em 2021 e o “fique em casa”, os hábitos mudaram.

E estes índices não consideram os dados da 26a Bienal Internacional do Livro, realizada em São Paulo, entre os dias 2 e 10 de julho deste ano.

Com quase 200 expositores nacionais e internacionais, o evento expectava um público de 500 mil visitantes, mas acabou superando essa previsão, recebendo mais de 600 mil pessoas.

Além disso, ao longo dos nove dias de exposição, cerca de 3 milhões de livros foram vendidos. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria Municipal de Turismo de São Paulo, divulgada pelo Publish News, as mulheres ocuparam o Top 3 no ranking dos livros mais vendidos.

As campeãs de vendas foram Pinkola Estés, autora da obra Mulheres que correm com os lobos (2018), Alice Oseman, que escreveu Rádio silêncio (2021) e J. K. Rowling, aclamada escritora da saga Harry Potter.

Com uma média de sete livros adquiridos por pessoa, a mais recente edição da Bienal do Livro foi um verdadeiro sucesso de público e de fomento à criação e à manutenção do hábito da leitura entre os brasileiros, visto que a literatura é, ao mesmo tempo, uma preciosa e prazerosa maneira de viajar sem sair do lugar; bem como uma ferramenta indispensável para a aquisição de conhecimento e desenvolvimento da criticidade.

Afinal, como afirma o brilhante poeta gaúcho, Mario Quintana (1906-1994), “Os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”.