Valorizar e reconhecer as lutas do movimento negro é sempre uma boa forma de combater o racismo que ainda sobrevive no nosso dia a dia. O Dia da Consciência Negra é celebrado no mês de novembro, porém é necessário pensar em promover uma educação antirracista para além de uma única data.

Um exercício rápido para relembrar os estudos antirracistas é buscar na memória, quem são as pessoas negras que fizeram parte da construção do conhecimento no Brasil que você conhece? O que você aprendeu sobre elas? Quais foram os seus feitos?
Além disso, nas cantigas, nas brincadeiras, na literatura e nos discursos, quais práticas que você estudou aproximam e valorizam a cultura e a origem dos povos que ajudaram a formar a nossa sociedade multiétnica e multirracial?
Estudar e vivenciar na prática ações relacionadas à educação antirracista é uma provocação para o respeito às diferenças, representatividade dos negros e reconhecimento do protagonismo africano e afro-brasileiro em toda a nossa história.
Na Escola Municipal Monsenhor Sebastião Scarzello, a educação antirracista está no Projeto Político Pedagógico (PPP) da unidade que norteia a proposta institucional da escola.
“Hoje a gente pode ver representatividade para as crianças. É algo que eu falo enquanto pessoa, mulher negra, que eu não vivi isso na escola enquanto estudei. Eu não tive essa oportunidade e hoje sou muito feliz que posso possibilitar isso para as crianças negras que estão aqui”, comenta a professora Josiane Neves da Silva Sant’Anna.
Com o trabalho ativo desde o início do ano letivo de se apropriar de temas relacionados à educação antirracista, a escola entendeu que, antes, era preciso retomar o conhecimento teórico-científico com os professores.
À frente dos estudos, das formações e diálogos, Josiane e Maria Fabiane Souza Israel construiram o eBook “Educação antirracista: o seu olhar melhora o meu” para servir de acervo de pesquisa com práticas pedagógicas que podem servir de inspiração para trabalhar com os alunos.
“As crianças estão alargando o horizonte delas acerca do conhecimento da África, Afro-brasileira assim como suas manifestações culturais. A partir dessas provocações que, a princípio, para nós, era pequena, mas está saindo para fora dos muros da escola e abraçando a comunidade, as famílias, os olhares”, diz Josiane.
Com os cabelos crespos, Heloá da Silva Lisboa, 11, aluna do quinto ano da escola, relembra que ainda criança, dos quatro aos oito anos de idade, tinha dificuldade em aceitá-los e, às vezes, até se sentia culpada por aceitar que falassem dele e não conseguir reagir.
Hoje a visão dela sobre o seu cabelo é outra. “Meu cabelo representa a minha identidade, a minha característica. Eu acho que as pessoas negras e as que têm cabelos crespos e cacheados têm que se valorizar. Eu acho que todo mundo é diferente, todo mundo tem que aceitar isso.”
Assim como Heloá, a diretora da unidade, Ilma de Souza Alves, relembra a relação que tinha com os cabelos na infância. “Eu tinha cabelos crespos, volumosos e isso era sinônimo de pessoa desleixada, bagunçada. Sempre aquele cabelo muito esticado, muito preso, para você ficar com uma aparência ‘bonita’ que era o que a sociedade colocava. Então, hoje, quando você vê uma pessoa negra com o cabelo black, da maneira que ela quer, com tranças, aí você vê uma identidade.”
Para a professora Josiane, a educação antirracista está além da cor da pele. “Ele vai dialogar com a cultura indígena, com os diferentes povos, com as questões de gênero, com as questões religiosas. Eu penso que todos ganham quando começa a se perceber e trabalhar a educação para as relações étnico-raciais dentro da escola.”
Meu cabelo é de rainha! 3q4w5u
Clique aqui e confira o vídeo produzido pela EM Monsenhor Sebastião Scarzello.
É lei! 6p3q20
Criada em 2003, a Lei nº 10.639 obriga o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira em todas as escolas de educação básica, com propostas concretas de estudos que aproximem os estudantes da cultura africana e afro-brasileira, assim como das relações étnico-raciais.
Estudar sobre este tema o ano todo ajuda a combater o racismo que, infelizmente, ainda existe dentro do espaço escolar. Com provocações e reflexões bem colocadas, é possível desconstruir preconceitos e formar cidadãos que respeitam e valorizam a diversidade cultural.
Três formas de aplicar a educação antirracista dentro e fora da escola 114z5j

Uma educação baseada na luta antirracista combate, ativamente, toda e qualquer expressão racista no ambiente escolar. Além disso, as práticas realizadas nesta pedagogia antirracista valorizam a identidade de diferentes povos e visam proteger, desde cedo, as crianças negras vítimas do racismo brasileiro.
- Entender as origens do racismo é o primeiro o para uma educação antirracista. No livro Pequeno Manual Antirracista, escrito pela filósofa, ativista e influenciadora negra Djamila de Ribeiro, a autora investiga as origens do racismo e afirma que a sociedade brasileira foi estruturada com base em um sistema opressor que discrimina e privilegia algumas raças em detrimento de outras.
- “Denegrir”, “criado-mudo”, “inveja branca”, entre outros, são palavras muitas vezes utilizadas no dia a dia sem que as pessoas se deem conta de que esses termos têm origem no sistema de discriminação racial.
- Na literatura, há vários autoras e autores negros que compartilham suas vivências em suas obras. Um exemplo é Carolina Maria de Jesus, que teve seus diários publicados sob o título “Quarto de Despejo: diário de uma favelada” em 1960. No volume, ela relata sua rotina como moradora da favela do Canindé, na zona Norte de São Paulo, e sua luta diária contra o preconceito racial e a fome.