As questões de políticas econômicas sempre trazem muita preocupação e geram debates entre os governantes e a sociedade na totalidade. Recentemente, um tema muito discutido em outros governos voltou a atrair a atenção de economistas: a criação de uma moeda única entre o Brasil e a Argentina.

O Brasil e a Argentina fazem parte do Mercosul (Mercado Comum do Sul) desde a sua criação em 1991. Este é um bloco econômico sul-americano, estabelecido para criar uma zona de livre comércio entre os países envolvidos. Essa zona garante a circulação comercial de produtos sem a necessidade dos trâmites burocráticos relacionados a uma exportação.
Conforme o professor de Relações Internacionais da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), Daniel Corrêa, na teoria econômica, um mercado comum seria uma região que conta com uma livre circulação de bens, pessoas e capitais. Contudo, o especialista aponta que existem certas ponderações no que se refere “livre circulação”.
Ideia da moeda comum entre os países não é de agora 4rc4g

Em outros governos, já haviam sido levantadas as possibilidades da criação de uma cédula comum entre os países. Conforme o economista e professor de Relações Internacionais da Univali e Unisul (Universidade do Sul de Santa Catarina), Paulo Roberto Ferreira, em 1987, os governos de José Sarney (Brasil) e Raul Alfonsín (Argentina) chegaram a firmar um memorando para a criação.
Para Ferreira, na ocasião a especulação de criação desta moeda comum entre o Brasil e a Argentina vem de encontro com uma dificuldade economica entre os países.
“É importante ressaltar que essas ideias surgem em momentos de crise econômica”, enfatiza.
Em 2019, durante o Fórum Econômico Mundial, o então ministro da economia Paulo Guedes cogitou a criação da cédula com o nome de “peso-real”. Contudo, essa ideia também não ou de pura especulação.

Após uma reunião na Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a trazer o tema no cenário econômico mundial.
“Por que não tentar criar uma moeda entre os países do Mercosul? Do Brics? Acho que com o tempo isso vai acontecer e acho necessário que aconteça”, afirmou o presidente.
Conforme o economista, essa última alegação, do atual presidente, de criar a moeda pode estar atrelada ao objetivo de estreitar as relações bilaterais entre os países e reduzir o risco pela alta volatilidade do dólar.
Confira trecho da fala de Lula sobre a moeda única:
Seria o fim do Real? 5q42y
O economista Ferreira enfatiza que é importante destacar que a ideia da criação desta moeda comum, no entendimento do especialista, se restringe à criação de uma alternativa que possa substituir o dólar na relação comercial entre os países. Ou seja, não uma cédula comum que faça com que seja abandonado o peso argentino e o real brasileiro.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirmou em entrevista ao portal Money Times, que a proposta de criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina não tem o objetivo de substituir o Real ou Peso Argentino.
Galípolo destacou que o Brasil vem perdendo espaço para a China quando o assunto são as relações comerciais da Argentina. Com isso, o secretário-executivo ressalta que a criação da moeda é uma das soluções que poderiam reverter esse cenário.
Para o presidente do Sinditrade (Sindicato das Empresas de Comércio Exterior do Estado de Santa Catarina) Rogério Marin, a proposta da moeda única é um desperdício de esforço e dinheiro público.
Marin explica que uma moeda forte é baseada na credibilidade do país, aliada com boas políticas de comércio exterior. Ele cita o caso dos Estados Unidos, que disponibilizaram a moeda corrente do país para regular as transações monetárias internacionais através do U$ Dólar.

Conforme Rogério, a política econômica dos Estados Unidos funciona muito bem, e por isso possuí facilidade em comercializar por meio do Dólar. Já entre o Brasil e a Argentina, conforme Marin, uma moeda comum entre os dois não teria uma boa aceitação nos mercados externos.
“Um país não vai querer comprar, pagar ou receber em uma moeda que não tem valor comercial fora do Mercosul”, garante.
O que aconteceria com a criação desta moeda? 2f4n46
Para o economista Paulo Roberto Ferreira, a ideia é que haja estudos bem aprofundados e alinhamentos sólidos macroeconômicos entre os países para realizar a criação desta moeda. Inclusive, segundo Ferreira, esses estudos buscam viabilizar a criação desta moeda sem a intervenção de uma terceira moeda, que atualmente é o Dólar.
Ainda, conforme Ferreira, essa moeda poderia trazer benefícios, mas desde que se restrinja às relações comerciais entre o Brasil e a Argentina. Tudo isso, conforme o economista, deve ser bem alinhado entre os governos.
Conforme o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o volume exportado pelo Brasil para o Mercosul em 2022, foi em torno de US$ 21,2 bilhões de dólares. Deste total, cerca de US$ 15 bilhões de dólares foram exportados somente para a Argentina.
Negócios com os “hermanos” 3nz50

Para o professor Daniel Corrêa, a Argentina é um parceiro comercial extraordinário do Brasil. O especialista em relações internacionais ressalta ainda, que somente em 2023, o Brasil exportou para o país vizinho cerca de US$ 9,5 bilhões de dólares, esse número representa cerca de 70% das exportações brasileiras atualmente segundo Corrêa.
Além disso, segundo Corrêa, o Brasil também importa muitos produtos de origem Argentina. Daniel destaca que a relação entre os dois países é considerado uma relação de alto nível.
“As negociações são vistas como relações de alto nível, por envolverem bens industriais com boa densidade tecnológica”, ressalta.
O economista Paulo Roberto Ferreira explica ainda que precisam ser analisados vários fatores instáveis e dinâmicos a respeito da criação da moeda. Conforme Ferreira, a discussão que está em pauta atualmente é a substituição do dólar nas negociações externas entre o Brasil e a Argentina.
Ainda, Rogério Marin aponta que nenhum empresário da categoria defendida pelo Sinditrade é favorável à criação e estabelecimento de uma moeda entre o Brasil e a Argentina. Para o sindicalista, essa é uma maneira criada que acabará afastando o Brasil, da economia norte-americana.