Há décadas, a energia nuclear tem sido uma importante fonte de energia em todo o mundo. Tem sido, inclusive, considerada por muitos países como uma aposta para atender às necessidades de mudança a partir da transição energética. Isso porque é uma eletricidade de baixo carbono.
As usinas nucleares emitem pouco dióxido de carbono, um dos principais causadores do efeito estufa. No Brasil, há grandes reservas de urânio, o que permitiria aumentar a exploração e os investimentos, assim como faz a França, de onde veio Marie-Agnès Berche.

Ela é diretora de Desenvolvimento de Negócios Internacionais para a EDF, a maior produtora e distribuidora de energia da França. No Brasil, a empresa é uma plataforma de desenvolvimento para projetos e serviços de geração térmica e hídrica e de transmissão. Ela explicou que cerca de 70% da eletricidade sa tem origem na energia nuclear.
Ao chegar no Brasil, Marie visitou a sede do Grupo ND, em Florianópolis. A diretora internacional foi recebida pelo presidente, Marcello Corrêa Petrelli, e por outros diretores.
Na oportunidade, pôde conhecer os propósitos do grupo, que é o primeiro conglomerado de comunicação do país 100% autossustentável em energia, visitar a redação integrada, e ver de perto os estúdios da emissora no alto do Morro da Cruz.
1. Pode explicar os benefícios da energia nuclear, particularmente em termos do seu impacto no mix energético, no crescimento econômico e na independência energética de França? 6y3f5a
A energia nuclear é absolutamente fundamental na França, onde você tem um operador que opera hoje os 56 reatores construídos entre 1970 e 1990.
A França produz mais de 70% da eletricidade por meio da energia nuclear, uma energia de baixo carbono e renovável. Há muitos benefícios em torno dessa energia. Primeiro, há a questão do benefício ambiental, porque é uma energia de baixo carbono. Do ponto de vista econômico, há enormes benefícios.
Na França, o preço da eletricidade é um dos mais baixos da Europa. Também é uma grande vantagem para a indústria, sendo um dos principais fatores de atratividade. O preço é muito competitivo.
O último ponto são os benefícios sociais. São mais de 3.000 empresas, cerca de 50 bilhões em receita e cerca de 200 mil empregos para os ses.
A França decidiu continuar desenvolvendo a energia nuclear com um programa ambicioso que inclui a construção de seis reatores de grande escala no futuro e a extensão da vida útil da frota existente.
2. Considerando o esforço global para descarbonizar e combater as alterações climáticas, poderia explicar melhor o papel da energia nuclear? Concorda com a perspectiva de que a energia nuclear é a solução mais viável para a maioria dos países reduzirem significativamente as emissões de CO2? 5u4w60
Hoje há um consenso sobre o papel fundamental da energia nuclear na luta contra as mudanças climáticas.
Isso é apoiado por estudos internacionais que mostram que uma das melhores soluções é desenvolver energias renováveis por um lado e, por outro, desenvolver energia nuclear, se quisermos descarbonizar a economia. Isso significa descarbonizar os mixes energéticos e, ao mesmo tempo, desenvolver os usos da eletricidade.
Então, você precisará de mais e mais eletricidade e precisará ao mesmo tempo descarbonizar os mixes energéticos de cada país, pois a situação é completamente diferente de um país para outro.
Se falarmos sobre o Brasil, já está descarbonizado. A França já está descarbonizada. No futuro, a melhor opção é desenvolver energias renováveis, como solar e hidrelétrica, além da nuclear.
3. Quais são os desafios na gestão dos resíduos nucleares e como a França enfrenta esses desafios? 555s1m
É verdade que é um desafio. A gestão dos resíduos nucleares é bastante eficaz. Primeiro, é bastante limitada. Se olharmos para a quantidade total de resíduos gerados pelo combustível, por exemplo, apenas 5% requer armazenamento a longo prazo.
E há outro aspecto: dos 5% que precisam de armazenamento a longo prazo, os 95% restantes são recicláveis.
E essa é a abordagem adotada pela França e também por Estados Unidos e o Reino Unido, que é reciclar parte do combustível gasto. Então, na França, desenvolvemos instalações para reciclar urânio de um lado e plutônio do outro, e você pode reciclá-los. Há muitas inovações em termos de gestão de resíduos.
4. Poderia partilhar alguns dos mais recentes avanços na tecnologia nuclear que estão a contribuir para a segurança e a eficiência da energia nuclear? 2of22
Há muitas inovações, por exemplo, os pequenos reatores modulares, que são bastante conhecidos agora. E há um novo mercado para esses pequenos reatores modulares e uma especialidade para aplicações não elétricas, ou seja, para produzir calor para sua casa ou para a indústria.
Então, mais e mais países estão requisitando o uso de pequenos reatores modulares não apenas para fornecer eletricidade para a rede, mas também para outras aplicações.
Temos também o que chamamos de reator Gen IV, que visa alcançar o fechamento do ciclo do combustível, ou seja, usar o combustível gasto e queimá-lo.
Então, você usará o resíduo e o queimará em um reator para produzir calor ou eletricidade. O último é a fusão, que é basicamente trazer a energia solar para a Terra, sendo uma fonte infinita de energia, mas não é para amanhã.
5. Como diretora de Desenvolvimento de Negócios Internacionais, como você contribui para a promoção e desenvolvimento da energia nuclear e quais são os planos para sua expansão na França e internacionalmente? 6a585s
É mais do que relevante, atualmente, construir novas usinas nucleares. Como diretora, eu e minha equipe estamos garantindo a promoção das soluções desenvolvidas pelo grupo EDF para apoiar a ambição de diferentes países que desejam desenvolver novos programas nucleares.
Temos uma solução baseada em três dimensões. A primeira é um portfólio de tecnologias. Temos tanto reatores em grande escala quanto pequenos reatores modulares.
O segundo aspecto é a engenharia e as capacidades da indústria para desenvolver novos projetos nucleares. Desenvolvemos algumas capacidades.
Temos, por exemplo, mais de 50 mil pessoas trabalhando em energia nuclear e 7.000 engenheiros. Também temos fábricas para produzir e fabricar equipamentos para uma usina nuclear.
Se quisermos ser eficientes na entrega de projetos, temos que entregar mais para construir cada vez mais. A maioria das oportunidades estão na Europa. E o objetivo é lançar dois reatores de grande escala até o final desta década.