Conheça a história de Maroca, a ‘Moça dos Laços’ que empreende na economia criativa

A empresária Josimara Antunes Pereira, 44 anos, percebeu na economia criativa catarinense a oportunidade de sustento da família que vive em Florianópolis

Ela tem 44 anos e já carrega uma história sólida de luta em busca de oportunidades por meio do empreendedorismo e da economia criativa em Florianópolis. Maroca, a “Moça dos Laços” ou simplesmente Josimara Antunes Pereira, aprendeu desde pequena a força e a oportunidade que o trabalho e a criatividade podem render na Capital.

Economia criativa: Josimara Antunes Pereira, a Maroca, ou "Moça do Laço", como é conhecia em FlorianópolisEconomia criativa: Josimara Antunes Pereira, a Maroca, ou “Moça do Laço”, como é conhecia em Florianópolis – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

“Minha mãe era costureira, crocheteira e artesã. Eu sempre ficava em cima dela para ver como é que ela fazia as peças e pedia para me ensinar. Ela fazia várias colchas de retalhos, trabalhos lindos”, lembra com os olhos marejados, diante da falta da mãe, que já morreu.

“Aos poucos fui aprendendo e tomando gosto pela coisa”, lembra a empresária da economia criativa de Santa Catarina, que hoje é a artesã e gerencia a Mimosa Laços.

Entre a infância e a adolescência, Maroca teve a certeza de sua vocação: fazer arte com as próprias mãos. Fazer artesanato, seja por meio da costura, do crochê, dos laços – que são hoje seu principal produto comercializado em feiras da Capital e Grande Florianópolis.

Maroca vem um uma família humilde da Grande Florianópolis. Ainda na infância, se mudou para a região das comunidade Chico Mendes, no Monte Cristo. Ali cresceu, casou, teve seus três filhos e viu o nascimento dos dois netos, sempre em meio a uma luta diária para vencer e colocar comida na mesa, dar uma vida digna à sua família.

“Não é fácil. amos por dificuldades, mas aprendi com minha mãe a força do trabalho. A gente ia catar retalhos e, dali, minha mãe conseguia material para o artesanato. Foi assim que ela viveu, e este também foi o meu começo”, revela.

Maroca ao lado da filha mais velha, parceira na produção e venda dos laços e assessórios. É a economia criativa ando de geração em geração – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/NDMaroca ao lado da filha mais velha, parceira na produção e venda dos laços e assessórios. É a economia criativa ando de geração em geração – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

Os primeiros nós, da “Moça do Laço”

Se para fazer um lindo laço primeiro é preciso dar um nó, muitos foram os que Maroca precisou desatar na sua vida. “Ainda quando ajudava minha mãe a costurar, uma vez, a agulha da máquina atravessou meu dedo. Acha que eu desisti? Jamais! No dia seguinte, tava lá de novo e assim fui, fazendo pecinhas de costura e crochê e vendendo na comunidade”, detalha Josimara.

Até que, quando a filha do meio nasceu, a observação de um comportamento foi a virada de chave para empreender. “Minha filha, Barbara Pereira, quase não tinha cabelos no primeiro ano de vida. Comecei, então, a gastar muito dinheiro com órios para a cabecinha dela, como tiaras, fitas e laços. Os apetrechos eram muito caros. Meu marido, que está comigo há 28 anos, falou: ‘Mulher para de gastar com isso’. Foi então que pensei: vou parar de gastar mesmo. Vou começar é fazer isso. Vou produzir”, lembra a empresaria artesã.

Esse foi o ponto de partida para a Mimosa Laços. “Mimosa por conta da minha pequena que não tinha os cabelos e usava os laços”, faz questão de falar mais uma vez, Maroca. “Eu e minha filha mais velha, Chaiane Pereira Silva, começamos a ver vídeos na Internet de como se faz esses laços. Fizemos alguns, ficaram meia boca, decidimos então fazer feira. amos o dia tentando vender, mas eles não saíam. Aí, percebemos que nós precisávamos de mais instrução e os laços de mais acabamentos. Foi fazer isso e pronto, as vendas deslancharam, até que chegou a pandemia da Covid-19”, recorda Maroca.

Venda de máscara para aumentar renda

“Decidimos utilizar os tecidos que tínhamos em casa para fazer máscaras. Todos precisavam de máscaras, a gente quase não achava na cidade e as poucas que tinham eram muito caras”, fala a artesã.

“Enquanto o povo vendia as máscaras por R$ 20 aqui no portão de casa, a gente comercializava elas por R$ 5, para ajudar a comunidade que não podia pagar. Chegamos a trocar máscaras por quilo de arroz. Assim fomos sobrevivendo e ajudando a comunidade”, explica Maroca.

Capacitação como ferramenta de transformação

A pandemia ou e a indústria artesanal de laços da Maroca voltou a render. “Eu fiz tanto laço na pandemia da Covid-19, tanto, tanto, que ainda tem estoque em casa. A maioria dos que estão expostos foram feitos naquele período”, conta Josimara.

A ferramenta de transformação nos negócios da empreendedora foi a capacitação. “Sem dúvida foi o que nos ajudou a pensar nosso negócio de forma profissional, a planejar, tirar do papel, nos capacitar. Eu fui convidada a participar do projeto da Cocreation Lab que nos deu várias palestras gratuitas de gestão de negócios, de economia criativa, como impulsionar as vendas e por aí vai. Aprendemos na teoria o que já fazíamos na prática e descobrimos ferramentas para fazer o negocio ir para frente”, cita a ‘Moça dos Laços’.

Hoje, a Mimosa Laços está por várias feiras da cidade, mostrando que quando se tem vontade de empreender, uma dose de criatividade e um empurrãozinho, muitas boas ideias podem sair do papel e render bons e rentáveis frutos. “Invista em seus sonhos, pode ser um simples laço de cetim. Faça com técnica, perfeição, capricho e dedicação. Certamente vai dar certo”, incentiva Maroca.

Projeto que nasceu em Florianópolis já capacitou mais de 3 mil empreendedores

Muita gente ainda tenta entender como a economia criativa vem transformando realidades. Luiz Salomão Ribas Gomez, 54 anos, CEO da TXM, empresa que gerencia o Cocriation Lab, explica que “na Inglaterra, o conselho empresarial diz que a economia criativa não pode ser tratada como algo diferente da economia como um todo”.

“A economia criativa tem que estar no contexto da economia geral, porque se for tratada diferente vai consumir mais recurso do que gerar. Como a economia criativa está também na tecnologia e muito ligada a inovação, não vai mais haver negócios sem ter, pelo menos, a economia criativa para encapsular. Ela já faz parte hoje e vai fazer muito mais da economia geral”, comenta o CEO da TXM.

Galera do Cocreation Lab em mais uma capacitação com o professor de design, e CEO da TXM Methods Luiz Salomão Ribas Gomez – Foto: Divulgação/NDGalera do Cocreation Lab em mais uma capacitação com o professor de design, e CEO da TXM Methods Luiz Salomão Ribas Gomez – Foto: Divulgação/ND

A empresa que surgiu em Florianópolis com o objetivo de capacitar empreendedores criativos já formou mais de 3 mil empreendedores criativos em sete anos. Hoje, ela está em oito estados (RS, PR, SC, ES, DF, AL, MA e SE).

“Nosso propósito é mudar o mundo de baixo pra cima. Os criativos, muitas vezes, precisam de uma ajudinha para aprender a se organizar melhor, dando mais chances de o negócio dar certo”, pontua Gomez.

Todos os cursos do Cocriation Lab são oferecidos de graça a quem tem o sonho de empreender dentro da economia criativa. A empresa, por sua vez, busca em projetos da iniciativa privada e pública, como prefeituras, governos estaduais e Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), formas de viabilizar essas capacitações.

Floripa 350

O projeto Floripa 350 é uma iniciativa do Grupo ND em comemoração ao aniversário de 350 anos de Florianópolis. Ao longo de dez meses, reportagens especiais sobre a cultura, o desenvolvimento e personalidades da cidade serão publicadas e exibidas no jornal ND, no portal ND+ e na NDTV RecordTV.

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