Ana Luiza Ciscato, nascida em São Paulo, vive em Florianópolis, onde atua na Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). Pedagoga, arteeducadora e professora de dança, foi pioneira com a dança inclusiva em Santa Catarina. Ela desafiou os limites dos alunos, seus bailarinos com síndrome de Down, deficiência visual e dificuldade motora mostraram suas habilidades, interatividade, emocionaram e foram aplaudidos ao se apresentar em festivais e na abertura da Paralimpíada em Londres.” Vivemos em uma sociedade excludente e temos um longo caminho a percorrer, mas creio que a Companhia de Dança Lápis de Seda deixa uma sementinha, contribui para que se valorizem as diferenças”, diz Ana Luiza Ciscato
Seus os Sou formada em dança clássica pela Royal Academy of Dance (Brasil, 1985) e pela metodologia cubana de dança clássica (Cuba, 1993). Há mais de 20 anos atuo com a inclusão social através da dança. Me especializei em dança pelos institutos Steps e Martha Graham School, em Nova York e, paralelamente, em uma técnica de apoio às pessoas com deficiências através da dança conhecida como Psicoballet, em Cuba, 1993. Em 2011, me formei professora pelo método norteamericano danceAbility, reconhecido internacionalmente, que propõe técnicas inovadoras para a inclusão de pessoas com deficiência.
Diferencial na trajetória
Como professora de balé clássico, observei que havia uma diferença entre o meu trabalho e os dos demais professores da técnica: sempre investi tempo e confiança nos alunos com mais dificuldades, incentivando-os a superar suas limitações. Os coreógrafos da época buscavam super corpos: altura, peso, colo de pé, flexibilidade, a rotação das pernas para fora, entre outros elementos. Sempre fui fascinada por corpos “imperfeitos” que, ainda assim, lutam pelo movimento “perfeito”. Observo que essas pessoas atingem um nível técnico acima do satisfatório quando enfrentam limites e dificuldades. Quando alcançam os objetivos, vejo autoconfiança, segurança e propensão ao desenvolvimento.
Desafio com a dança Inclusiva
Para realizar um trabalho inclusivo, é necessário ter uma visão inclusiva do mundo. Acreditar que o desenvolvimento humano se dá por meio da conscientização de que todos temos importância, capacidades, um papel social e formas diferentes de expressão, de aprender, de se colocar diante da vida. Quando isso for respeitado, aceito e valorizado, teremos uma sociedade mais justa. Na arte não existe “certo” e “errado”. Essa ideologia é o ponto de partida para observar as estruturas sociais da pessoa com deficiência. Quando criamos artisticamente, em condições favoráveis, experimentamos um pouco de nós mesmos, criamos ângulos de contato com o mundo.
O grupo da Apae
A Apae é responsável pelo desenvolvimento do meu projeto atual, de todas as oportunidades criadas por eles no sentido da formação de bailarinos com deficiência. Os bailarinos agora são um elenco firme, autoral, empoderado, com direito a todas decisões e que, livres das amarras da normatização social, demandam uma participação relevante em toda a produção. Graças ao apoio da Cateno, a patrocinadora, eles são remunerados, conscientes e ativos na criação. Convidam a olhar não os limites de cada um, mas o espaço que existe além.
O seu trabalho atual?
Criada em 2014, a partir de uma perspectiva de valorização das diferenças individuais, a Companhia de Dança Lápis de Seda reúne bailarinos com diferentes capacidades e formações, além de artistas da música, teatro e artes visuais. Cada um é parte fundamental. Espetáculo em cartaz “Convite ao Olhar” parte de elementos do cotidiano dos bailarinos e de como cada indivíduo reage a diferentes situações, a pela valorização da singularidade humana. O espetáculo será apresentado em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba e Florianópolis, com estreia no dia 27 de maio, no Parque Jardim Botânico, dentro do 10o Múltipla Dança – Festival Internacional de Dança Contemporânea.
RAIO-X NASCEU EM SÃO PAULO, VIRGINIANA, DIVORCIADA E MÃE DE PEDRO E JOÃO PALAIA.