Série ‘Vozes da Consciência’: Consciência negra é pouco compreendida h5c41

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Produção do SC No Ar, da NDTV, apresenta reportagens que tratam, entre outros assuntos, sobre preconceito racial e desafios

“Ter consciência negra é sentir na pele a dor de ser julgado o tempo todo. O negro sempre é visto por suas características e não pelas suas capacitações. Se houvesse essa tal consciência, quem sabe teríamos de fato uma neutralidade em situações simples do cotidiano.”

Série “Vozes da Consciência” teve início nesta segunda-feira (15) na NDTV – Foto: Reprodução/NDTVSérie “Vozes da Consciência” teve início nesta segunda-feira (15) na NDTV – Foto: Reprodução/NDTV

Esse é o comentário de uma família ouvida na série “Vozes da Consciência”, da NDTV Record TV que estreou nesta segunda-feira (15), no SC no Ar. Respostas como a dessa família sobre a consciência negra ainda são casos isolados.

Veja essa reportagem em vídeo na série da NDTV Record TV

Mesmo os que sabem sobre a data, na maioria das vezes, desconhecem o porquê de sua existência – ou questionam o fato de ser o “tal dia do negro”, o que leva muitos a ficar até sem saber o que responder.

“No Brasil, a data foi criada a partir da década de 60 por um coletivo de militantes negros do Rio Grande do Sul que se contrapunha à data de 13 de maio, dizendo que não era só a abolição que tinha que ser celebrada. Tinham que celebrar a resistência dos negros também”, lembra a professora e escritora Jeruse Romão.

“Ser negro não é só uma questão antropológica e de concepção de identidade. O que mais vale hoje para nós é assumirmos uma negritude. O que significa isso? Lutar contra uma sociedade liberal que luta pelo branqueamento das coisas”, defende o teólogo Marcos Silva Rodrigues.

População catarinense tem 10,6% de negros 233d5e

Em pleno século 21 ainda é difícil se sentir um igual mesmo fazendo parte de uma sociedade que respira diferenças de todos os tipos. Tivemos alguns avanços, é verdade.

O fato é que temos comprovadamente inúmeras influências para a formação do país e de Santa Catarina. Além disso, a população negra só cresce.

De acordo com dados do IBGE, com base no censo de 2000 e 2010, os negros representam 10,6% do total de habitantes de Santa Catarina. Separando estes dados por regionais, a pesquisa de 2010 aponta relatos surpreendentes.

Em Caçador, no Meio-oeste catarinense, temos o maior percentual: 33% da população. Em seguida vêm Curitibanos, Lages e Xanxerê. A Grande Florianópolis tem 14% da população negra.

Racismo presente 1vy5t

Mesmo com todo esse conteúdo, ter noção da realidade evolutiva dos seres com a contribuição afrodescendente ainda é muito complexo. E o grau de dificuldade é tamanho que com a era digital, os relatos racistas estão cada vez mais presentes.

“O crime de racismo acaba sendo desqualificado para o crime de injúria racial, que no fim continua sendo um crime, vira inquérito policial, no entanto, a pena é mais branda. No crime de racismo a pessoa fica reclusa de 2 a 5 anos e na injúria é uma pena mais branda de 1 a seis meses mais multa”, explica o advogado e ativista Marco Antonio André.

Letra do hino do Estado fala sobre igualdade 5o4o2v

No século 19, a então Desterro, hoje Florianópolis, tinha uma população pequena. Eram cerca de 11 mil pessoas – desse total, 26% eram negros e mantidos como escravos.

Desde essa época já se tentava combater a escravidão. Quando a Lei Áurea foi assinada, em 1888, o Estado já não mantinha cativos, pelo menos não legalmente. O desejo de abolir a escravatura influenciou até na composição do hino de Santa Catarina.

A letra do hino catarinense é de Horácio Nunes Pires e a música de José Brasilício de Sousa. Dois homens à frente do seu tempo que já influenciavam outras cabeças mais futuristas clamando pela igualdade. Trechos do hino falam sobre acabar com a desigualdade.

“Não mais diferenças de sangues e raças

Não mais regalias sem termos fatais,

A força está toda do povo nas massas,

Irmãos somos todos e todos iguais.

Da liberdade adorada.”

(…)

Quebrou-se a algema do escravo

E nesta grande Nação

É cada homem um bravo

Cada bravo um cidadão.”

Santa Catarina tem referências icônicas, além de Antonieta de Barros e Cruz e Sousa. Apesar da imensa importância e contribuição, o Estado é plural e muitas personalidades negras ainda estão no anonimato da história catarinense. Esse será o tema da reportagem desta terça-feira (16), em mais uma reportagem da série.

* Colaboraram Ana Assunção e Suzan Rodrigues

Capítulo 1 – Essa reportagem que você acabou de ler aqui

Capítulo 2 – Vozes da Consciência: Conheça heróis negros catarinenses que não estão nos livros escolares

Capítulo 3 – Influências negras vão das palavras até os pratos da gastronomia brasileira

Capítulo 4 – A segregação racial escondida por décadas em nossa história oficial

Capítulo 5 – Crescimento no empreendedorismo negro revela histórias de sucesso contra o preconceito

Especial: Homenagem em vídeo para o Dia da Consciência Negra