A quarta cidade mais antiga de Santa Catarina. No ado, um eixo econômico importante entre a Serra e a Ilha. Ao longo da semana, o jornal ND mostrou São José em 2022, os investimentos em esporte, educação e inovação.

Neste fim de semana, considerando que, no sábado (19), São José completa 272 anos, propomos uma viagem aos anos 1750, quando a cidade era habitada por índios guarani e as primeiras famílias vindas de Portugal começaram a chegar.
O historiador Rafael Barcelos Martins é responsável pelo Museu Histórico de São José Gilberto Gerlach. Conhecedor da história josefense, Martins explica que a cidade teve um papel econômico, cultural e político muito importante para a região.

Ele concedeu uma entrevista, no início da semana, à NDTV onde, segundo ele, toda essa história começou: “Estamos no marco zero. Neste local, onde estamos agora, o Centro Histórico, é que a cidade cresce e se desenvolve”, conta.
É o século 18, época em que o Sul do Brasil era disputado, centímetro a centímetro, por espanhóis e portugueses e era preciso marcar território.
“A partir de 1750 vão chegar as primeiras levas de famílias do arquipélago dos Açores. A história oficial de São José começa nessa época. Mas temos que lembrar também que havia uma população indígena, que habitava todo o litoral de Santa Catarina, os guaranis. No contato com o homem branco, eles foram cada vez mais para o interior”, explica Martins.
Ainda sobre a formação étnica de São José, Martins fala sobre a contribuição dos negros: “No século 19, a população era composta 20% por negros, na condição de escravizados”, conta o historiador.
Um monumento à coragem e à ousadia josefense 2467f
O artista plástico Plínio Westphal Verani, natural de Orleans, no Sul, vive desde a infância em São José. Autor de diversas obras na cidade, também em Florianópolis e outros Estados brasileiros, recebeu uma missão às vésperas do aniversário de 250 anos de São José, à época governada por Dário Berger.
A proposta era que Verani fizesse um grande monumento no Centro Histórico. O pedido veio num mês de dezembro e ele deveria entregar em março do ano seguinte, data do aniversário. O artista não só aceitou a incumbência, como a encheu de significados.

“O formato delta da peça significa o avanço numa certa direção e remete à proa de uma embarcação. A figura da ponta, massiva, significa a coragem, a ousadia. A obra tem nove personagens, remetendo às nove ilhas do arquipélago dos Açores. A décima é a criança. Também estão representados os afazeres típicos da região: o pescador, a rendeira, o agricultor, o oleiro (…) Cada coisinha tem um significado”, ressalta Verani, que com ajuda de outros profissionais entregou a obra no prazo. “Foi extenuante, mas está aí!”
Centro Histórico, uma imersão luso-brasileira 1q321m
Não há local mais alusivo ao ado de São José do que o Centro Histórico. Repleto de construções antigas, com características da arquitetura luso-brasileira, como o Theatro Adolpho Mello, a Igreja Matriz e o Museu Histórico Gilberto Gerlach, o local tem outra obra vistosa de Plínio Verani, no trapiche.

“Eu fazia parte do Conselho de Cultura e estávamos discutindo o conceito das calçadas de memória. Então, surgiu a ideia de usar uma grande tela, o trapiche. Peguei livros de Gilberto Gerlach, Osni Antônio Machado, do professor Vilson Farias [todos pesquisadores da história de São José] e resolvi estender esses livros pelo trapiche, fazendo a linha do tempo da cidade”, revela o artista.
Segundo ele, lamentavelmente, a obra sofreu um ataque de alcalinidade muito violento e está comprometida. Verani pensa em fazer uma nova abordagem da obra, ou um livro contando a história do trapiche.
“Foram dias de chuva, vento. A gente chegava na ponta e dava frio, vento forte. Tinha hora que nem dava para segurar o pincel direito, mas deu certo, uma experiência muito interessante, muito prazerosa”, lembra Verani sobre os três meses de trabalho no trapiche.
Também no Centro Histórico, o Theatro Adolpho Mello é outro orgulho da cidade. É a mais antiga casa de espetáculos, em funcionamento, de Santa Catarina e a terceira do Brasil. Sua inauguração foi em 1856 e, além de teatro, foi palco de cinema e até de carnaval.
Fechado por oito anos, foi restaurado, reaberto em dezembro de 2020 e está em plena atividade, inclusive com oficinas de teatro para crianças.
Importância econômica desde a fundação 14296g
São José ainda é um destaque comercial e empresarial em Santa Catarina. Proporcionalmente, foi a segunda cidade que mais gerou empregos em 2021 no Brasil. Uma posição não muito diferente do seu ado. Antigamente, a área territorial da cidade ia desde os campos de Lages, até a região do Estreito, que se chamava distrito de João Pessoa.
“Do ponto de vista econômico era um entreposto comercial muito importante, porque escoava as mercadorias que vinham da Serra até a Ilha de Santa Catarina. A ponte Hercílio Luz só foi construída em 1926, então, até esse ano, os produtos tinham que ser embarcados nos portos de São José. Era uma cidade estratégica, elo entre a Serra e o Litoral”, ressalta Rafael Martins, responsável pelo Museu Histórico.
Visita da família real 1y6c6f
“Vieram dom Pedro 2º, a esposa Teresa Cristina e uma comitiva, com soldados e políticos. Eles ficam em Nossa Senhora do Desterro e têm uma curta agem por São José, porque estão indo se banhar nas Termas de Cubatão, atual Caldas de Imperatriz, em homenagem a dona Teresa Cristina”, conta o historiador Rafael Martins.
A visita é importante na história de São José, pois a cidade ou por melhorias para receber o imperador, que retribuiu a cortesia: “Ele fez uma doação expressiva para construção e manutenção da Igreja Matriz, que temos até hoje”, explica Martins.

Também na visita, o imperador doou uma espada, que está exposta no Museu Histórico. Ela foi doada ao coronel Ferreira de Mello, do Partido Conservador.
“Ele era proprietário desse casarão, o Solar Ferreira de Mello [sede do poder executivo do Estado, por curto período, em 1893, e atual Museu Histórico de São José], e recebeu das mãos do imperador uma espada e o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo, uma honraria da época”.
Orgulho da cidade 3m3n6r
Julio Cesar Farias, 71 anos, é morador do bairro Areias e conta que decidiu se mudar para São José por causa da tranquilidade e da boa oferta de comércio.
“Me aposentei há 18 anos, em 14 de março de 2004 e resolvi morar em São José, onde pude ver o magnífico crescimento do meu bairro”, afirma, orgulhoso.
Diretor regional do Crea-SC (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Santa Catarina) e responsável pelo escritório da entidade em São José, Túlio Maciel vive na cidade por causa da família.
“Meu bisavô, Constâncio Krummel, chegou em 1890 para dirigir a Companhia Colonizadora Catarinense e fixou moradia em São José da Terra Firme”, conta.

O que mais lhe atrai em São José é que a cidade criou identidade própria: “Está com um nível de desenvolvimento e empreendedorismo muito forte, atraindo investimento e muita obra”, completa.
Morador de São José desde 1959, o artista plástico Plínio Verani avalia que, dada a grandeza da cidade, é fundamental que a cada ano, em cada aniversário, a cidade seja cuidada e gerida, com respeito e carinho: “São José é grande e forte não só economicamente, mas continua forte cultural e historicamente.”