Inferninhos, casas noturnas e bares do Centro de Florianópolis realizam – com edições recorrentes e ingressos quase sempre lotados – festas com a temática anos 2000. A febre de celebrar a primeira década do milênio já se arrasta há alguns anos na Capital.
Tanto a produção musical da década quanto a estética do período tomam as edições: músicas de Britney Spears, Charlie Brown e Pitty se misturam com tecidos jeans, temáticas da Barbie, entre outros elementos. Mas o que explica a nostalgia?

O ND+ questionou DJs e produtores das noites para entender as razões do saudosismo. As festas Throwback (realizada pelo Blues Velvet Bar), Remake (Opium) e Sexyback (Desgosto) são algumas que ressuscitam a década na Ilha de Santa Catarina.
Década têm repertório comum, traço que se perdeu, opina DJ 6321x
A primeira década do milênio é a última sobre a qual existe um repertório de músicas compartilhado, acredita Fábio Yokomizo, o DJ Yoko, que agita as festas da Capital desde 2016. “As pessoas tinham um ‘inconsciente coletivo’ de coisas parecidas. Ainda era uma época onde a produção era pouca e o alcance era limitado”, avalia.
A percepção é oposta quando o assunto é a contemporaneidade. O crescimento do volume de produção e a distribuição de hits tornou a tarefa de agradar a todos muito mais difícil: é comum alguém encerrar a noite sem conhecer algo ou sentindo falta de uma ou outra música que esperava ouvir, conta Yoko.
“É difícil todo mundo conhecer tudo. Mesmo para mim, que trabalho com música, é impossível saber tanta coisa. Não dá para acompanhar”, afirma o DJ. “Por exemplo, se você sentar numa mesa com quatro amigos seus que gostam de pop, cada um vai apresentar um artista que o outro nunca ouviu falar”.
Festa temática é a mais famosa e antiga de balada no Centro de Florianópolis 5o3v58
Yoko é nome recorrente nos line-ups da Sexyback, festa que leva o nome do sucesso de 2006 do cantor Justin Timberlake. É o evento mais antigo ainda vivo no Desgosto, na rua Padre Roma, no Centro. “As festas anos 2000 não tem estilo musical. Vai do pop ao rock, do nacional ao internacional. E tem o adicional do funk”, detalha
A primeira edição da Sexyback foi realizada há oito anos, quando o Desgosto ainda se chamava Treze. Já com novo nome e reaberto desde 2021, a casa noturna reúne o público para dançar os sucessos da década ao menos uma vez ao mês.
“É sem dúvida uma das festas de maior bilheteria na casa e dá sold-out [todos ingressos vendidos] muito rápido. É uma queridinha, o pessoal cobra para ter”, relata José Thiago Lima, ex-proprietário do Treze e hoje do Desgosto Bar.
“O sucesso ocorre por conta da nostalgia. O público que frequenta é um pessoal que nasceu no fim dos anos 90. Para eles, os anos 2000 remetem à juventude”, resume Lima ao refletir sobre os motivos do sucesso da Sexyback.
As edições são tematizadas, o que aprofunda a ambientação: Summer Eletrohits (compilados de música eletrônica da época lançados em álbum) e Barbie foram as últimas propostas.

“O sucesso é também um mérito musical da década. Teve a febre do hip-hop, o rock estava em alta com o emo. A música pop era produzida num ritmo diferente do que é hoje”, acredita Lima. “Tínhamos muitos discos, o que dava material para trabalhar um ano de festa. Hoje os artistas lançam mais singles [músicas separadas, lançadas individualmente]”.
Noites promovem encontro de gerações, atraídas pelo apelo estético 653m6c
Também no Centro, a Opium organiza a cada dois meses noites com o tema anos 2000 – chamadas Remake. Prestes a celebrar o primeiro ano de funcionamento em setembro e já consolidado na vida noturna de Florianópolis, o inferninho localizado na avenida Hercílio Luz realiza edições da festa desde a abertura.
As noites da Remake reúnem majoritariamente jovens e adultos com idades entre 18 e 35 anos, detalha a proprietária da Opium, Mariana Thomé.
Ela vê duas experiências distintas entre o público. Os mais velhos são atraídos pela nostalgia, querendo reviver. “As pessoas que nasceram 2005 têm 18 anos hoje. Eles eram bebês quando ocorreram os anos 2000. Para eles não é uma nostalgia, mas algo vintage”, diferencia Thomé. “Há duas gerações se encontrando. É como se a minha geração quisesse explicar aos outros como era”.
As festas na Opium exploram os elementos visuais: a primeira edição, por exemplo, contou com fotos realizadas por câmera Cyber-shot, modelo popular na década. O público se empolga, não sendo raro ver gente combinando jaqueta e calça jeans, com tic-tac no cabelo ou usando gloss.
“Como somos uma casa mais diferenciada, a Remake não é a festa mais famosa, mas fica no ranking de maiores da casa”, afirma Thomé. “Se por acaso uma festa comum for cancelada e colocarmos uma temática anos 2000 no lugar, certeza que será sucesso”.