Para o escritor Dennis Radünz, 49 anos, o primeiro semestre de 2020 seria focado na conclusão de seu mestrado. Estava mergulhado em leituras e com um ritmo de escrita vertiginoso. Tudo mudou com a pandemia e as medidas que decretam o “recolhimento obrigatório”. “Até fevereiro o mundo era são, o mundo era movimento”.

Os primeiros casos do novo coronavírus em Santa Catarina foram confirmados em março. ado abril, maio, junho, julho, agosto e setembro, a pandemia continua.
Numa realidade nova, cheia de restrições sanitárias, poetas catarinenses tiveram diferentes processos de criação durante o isolamento. Neste domingo (4), quando é celebrado o Dia Internacional do Poeta, Dennis Radünz, Péricles Prade e Beatriz Tajima descrevem suas produções na quarentena.
Produção quase autobiográfica 6e1e2b
O mestrado de Dennis Radünz foi apresentado somente em junho, diferente do que inicialmente estava previsto. Mas foi na escrita a maior mudança imposta pelo perigo do contágio. ou a escrever uma série de poemas “quase autobiográficos”, partindo de leituras de obras de mulheres, como os textos da romancista chilena Lina Meruane.

“Quando o acaso disser o seu nome” é uma reflexão sobre sua família, especialmente sua mãe, irmãs e companheira. “É interessante que isso é bastante novo na minha poética, na minha escrita. Eu atribuo isso diretamente a pandemia”, conta.
Durante os meses de isolamento, Radünz, que também atua na Nave Editora, notou uma mudança na relação das pessoas com os livros. O site da editora teve um acréscimo 4.000% na visitação de seu site.
A cifra astronômica, acredita Radünz, está refletida no selo Nave-niva, voltado para publicações infantis e sobre a relação entre pais e filhos.
Isolamento compulsório 6z4kt
Péricles Prade, 78 anos, autor de Os milagres do cão Jerônimo, uma das leituras obrigatórias do vestibular UFSC/UFFS 2020, ocupava os finais de semana com leitura e escrita antes mesmo da pandemia. “Agora é um isolamento compulsório e antes era facultativo”.

“Como eu sou mais mental do que praticamente sentimental, no sentido mais lírico da palavra, durante a pandemia eu me senti muito mais a vontade porque eu fico espiritualmente concentrado e sou mais voltado para a minha interioridade. Neste período, o pensamento foi até melhor porque está divorciado do dia-a-dia de uma profissão intensa”, comenta Prade.
O autor se prepara para lançar a obra ficcional “Colônia de Sombras”, além de ter escrito textos sobre animais fantásticos de estimação e um livro sobre bruxa, demônios e vampiros, uma homenagem a Franklin Cascaes. Todos os textos permeados por uma carga poética.
Transitando pela ficção e poesia, o autor tem uma visão distinta do que é inspiração poética. “Eu acho que é mais transpiração do que inspiração propriamente dita”, diz Prade, que prepara ainda a publicação de suas 21 obras poéticas em uma única coletânea.
Tempo para escrever 59r9

A poeta Beatriz Tajima, 27 anos, usa do tempo para avançar em projetos antigos. Com textos publicados no Suplemento Cultural de Santa Catarina – Ô Catarina!, ao lado de veteranos como Rodrigo de Haro e C. Ronald, a jovem pretende publicar seu primeiro livro, intitulado “Azul Petróleo”.
Em confinamento, ela, que edita suas poesias escritas desde 2013, prepara novos textos. O amor pelas palavras começou ainda na adolescência quando escrevia trechos em notas fiscais e outros papéis que encontrava.
ou a escrever no Poemas e rascunhos, que com o isolamento ganhou mais volume de produções e até mais sensibilidade. “Como responder sem dizer que eu surtei?”, responde em meio a risos. Tajima diz que a escrita ou a prestar mais atenção nas conexões entre pessoas e no aspecto do tempo.
A autora também trabalha no lançamento de uma antologia com poemas de autores catarinenses e africanos. A obra, que está em fase de organização, deve ser lançada após a captação de recursos.