Sabendo que as alterações demográficas ocorridas nas últimas décadas prevêem maior aumento da população acima dos 60 anos nas próximas décadas, o município de Jaraguá do Sul realiza desde o ano ado uma pesquisa diagnóstica dos idosos.
Financiada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa, a pesquisa é realizada por alunos bolsistas da Unisociesc, envolve 1,7 mil idosos e revela dados importantes sobre os hábitos de vida dessa população.

O secretário de Assistência Social e Habitação de Jaraguá, André de Carvalho Ferreira, destaca que com esse diagnóstico será possível estabelecer políticas públicas adequadas ao atendimento dos idosos e conhecer suas demandas nas áreas da saúde, cultura, esportes, habitação, educação e outras.
Conforme o responsável pelo levantamento, professor e doutor em Neurociências da Unisociesc e pesquisador do Instituto Anima, Tiago Souza dos Santos, a amostragem representa mais de 10% da população idosa da cidade, que fica em torno de 14 mil pessoas.
“Estatisticamente, o número representa um erro amostral menor que 3%, o que permite extrapolar os dados encontrados para o restante da população idosa do município. O levantamento possibilita entender melhor a vida deles e adaptar as políticas públicas na tentativa de sanar as demandas existentes e prevenir aquelas que o diagnóstico indicar como causas de dificuldades para a vida do idoso”, reforça o professor.
Primeiros resultados d2r1p
A pesquisa é feita por telefone e leva em conta diversos aspectos da vida do idoso, desde necessidades de serviços públicos, hábitos de vida, escolaridade, doenças existentes, entre outras informações.

Resultados preliminares revelam que os idosos do bairro Ilha da Figueira,por exemplo, são os mais ativos fisicamente e que os que praticam uma religião têm hábitos mais saudáveis, como beber menos, dormir mais cedo, não fumar e fazer mais atividades físicas.
Entretanto, a presença de grandes parques e academias de saúde não parece ser determinante para aumentar o nível de atividade física na faixa etária pesquisada.
“Apenas a presença do equipamento para a prática não garante participação do idoso. Nas entrevistas, muitos idosos indicaram ‘preguiça’ de fazer atividade física; portanto, podemos entender que hábitos pessoais negativos também estão entre os fatores que afastam os idosos dessas atividades”, avalia o professor.
Complicações de saúde Os dados mostram ainda a importância da atividade física em relação à incidência de doenças: dentre os praticantes, mais de 60% não relataram problemas de saúde; já entre os sedentários, o índice baixou para 40%.
“O mapeamento revela também a proporção de idosos acometidos por diferentes patologias e comorbidades (obesidade, sedentarismo) que aumentam a chance de terem algum problema no futuro”, diz o professor.
Segundo o estudo, a complicação de saúde mais comum afeta o sistema cardiovascular, com 65,6% apresentando o problema; em seguida, estão as doenças osteomioarticulares (26,7%) e a diabetes (25,4%). Essas três grandes complicações afetam principalmente idosos que não praticam atividade física, principalmente os homens.
“Todos esses idosos vivem em áreas próximas a alguma unidade básica de saúde. Portanto, o atendimento preventivo ou de manutenção deveria ser realizado nestas unidades”, aponta Tiago.
“Outra ação possível seria reforçar a divulgação dos programas municipais existentes, implementar a prática de atividade física nos grupos de idosos, criar uma rede de divulgação de atividades propostas por instituições não governamentais e aumentar ações voluntárias extensionistas das instituições de ensino superior do município, nos parques municipais”, acrescenta o pesquisador.
Cuidados específicos para quem mora sozinho i6k1l
Também foram feitas várias comparações entre os idosos que moram sozinhos e os que residem com familiares, em questões relativas à ingestão de álcool, alimentação, percepção de saúde, etc. Mas a diferença maior, segundo o pesquisador, foi na adesão à prática de atividade física: os idosos que moram sozinhos praticam mais atividade física do que os que moram com parentes.
“Isso pode indicar um nível maior de autonomia e independência funcional desses idosos, o que conta como ponto facilitador na hora de morar sozinho. Por outro lado, cerca de 17% dos idosos que vivem com parentes sofreram quedas; enquanto entre os que vivem sozinhos, este índice é de 25%”, cita Tiago.
“Esse dado é preocupante pois a queda pode ser um evento muito traumático (física e psicologicamente) para o idoso, o que pode contribuir para o surgimento de comorbidades e acelerar a sua morte. Além disso, em quedas mais graves, quem mora sozinho pode demorar ou nem conseguir pedir ajuda, o que dificulta o atendimento e pode afetar a sua recuperação”, acrescenta.
“Por isso, um programa de prevenção de quedas para idosos que moram sozinhos seria uma ótima abordagem a ser pensada como parte de um programa de saúde pública a ser disponibilizado nos diferentes espaços voltados para atenção à saúde”, opina.
Outros dados levantados 5mw5i
Veja outros dados interessantes levantados até agora:
– O público feminino é o mais comum em todos os equipamentos públicos voltados para a saúde: 72% em academias de saúde e 74% em grupos de idosos. Isso mostra que o homem idoso tem mais resistência ou não tem interesse em procurar tais espaços;
– 12,7% dos idosos já sofreram algum tipo de violência durante a vida e 9,4% sofreram quando idosos;
– Casos de violações contra os direitos dos idosos aumentaram nos anos de 2019 e 2020 e afetam principalmente os idosos do sexo masculino. Dentre as violações mais comuns estão os furtos, estelionato e ameaças;
– A mulher idosa é a maior vítima de violência doméstica (7 vezes mais que os homens) e a faixa etária com maior incidência é entre 60 e 65 anos. Dos casos de violência doméstica contra mulher, boa parte é cometida pelo próprio marido;
– Dentre os homens, os casosde violência doméstica registrados (um em 2019 e cinco em 2020) foram contra idosos acima dos 72 anos.
Sobre a questão da violência, o secretário de Assistência Social, André Ferreira, afirma que os idosos vítimas de violência podem procurar as unidades do CRAS e Creas tanto para denunciar essas práticas quanto para serem atendidos.
“Estamos preparados para atender todo tipo de violência: física, psicológica, sexual, medicamentosa ou econômica”, diz.
Entre as dez unidades de atendimento social, o Creas Nova Brasília é referência no município. A unidade fica na rua José Emmendoerfer, 328, bairro Nova Brasília e está disponível para atendimento nos telefones (47) 3371-8445 e (47) 3275-2343.
De acordo com o secretário, quando o diagnóstico for finalizado, será criado um grupo de trabalho para definir as políticas públicas voltadas aos idosos no município.
“Essas ações serão compartilhadas entre os gestores e a istração municipal buscando novas metodologias para aprimorar ainda mais o atendimento a essa parcela da população”, completa.