Dezembro tinha tudo para começar como de costume, embalado pelo ritmo feliz das festas de fim de ano e as celebrações em família. Só que o dia 30 de novembro mostrou que, neste ano de 2022, seria diferente, pelo menos em Santo Amaro da Imperatriz.

A semana já era de chuva sem tréguas, mas o alerta de enchente que foi avisado através do sino da cidade que badalou no fim da tarde para que os moradores se preparassem, confirmava o que estava por vir. Muitos duvidaram, outros até se organizaram colocando o que tinha de mais importante para o alto, não tanto quanto deveria, pois a verdade é que ninguém acreditou que seria desta forma.
Naquela quarta-feira, a bombeira Maria Elisa Esser Kloppel buscou o filho na escola e a sogra foi até a casa dela para ficar com o neto. Ela se fardou e foi para uma daquelas missões que é preciso coragem e foco.

Na virada para quinta-feira o pesadelo que já dura mais de uma semana começava. A cidade já estava sem luz, sem telefone e completamente embaixo da água. “Por volta da 1h retiramos de bote o meu sogro com água no pescoço. Aquilo foi muito impactante. Uma ocorrência emocionante”.
Maria Elisa é natural de Santo Amaro e precisou ser forte, já que, por ser uma cidade pequena, conhecia quase todo mundo. Além disso, o cenário onde antes tinha memórias das brincadeiras de criança, dos bons momentos que viveu com a mãe, que é artesã, e o pai, comerciante, e onde construiu a sua família, já não era mais o mesmo.
“Foi cansativo físico e psicologicamente ajudar ao próximo, sabendo que os ‘meus’ também estavam em necessidade. ar a cidade e ver que minha família e meus amigos também perderam tudo. Não ter o ou comunicação com minha casa, sem ter certeza que todos estavam bem. Foi muito triste ver minha cidade natal ruir em poucas horas”, afirma a bombeira.

Quase como uma piada ácida do destino, Maria Elisa decidiu ser bombeira em um momento como esse, em 1998, quando viu os bombeiros resgatando as pessoas com um bote. “De lá para cá a vida me guiou para essa profissão e nesses últimos dias tive o orgulho de servir em ajuda a minha cidade”.
“Minha gana era dirigir um caminhão de bombeiro e hoje minha função é motorista” 3u283w

A Maria Elisa é uma daquelas pessoas de personalidade com garra. De fala serena, mas determinação que transborda no olhar. Não é à toa que quando entrou no quartel conseguiu mudar a cabeça de muita gente por lá para realizar o maior sonho na profissão.
“Minha gana era dirigir um caminhão de bombeiro e teve um chefe de socorro que comprou essa minha briga. Eu aprendi com ele a dirigir todo tipo de caminhão e hoje em Santo Amaro a minha função é motorista. Eu tenho orgulho e sei que faço aquilo muito bem, porque me empenho muito para fazer da melhor maneira”, relembra.
Para ela, a dica para as meninas que também sonham em seguir a carreira é para que não desistam. “Treinem e estudem. O concurso inclusive está aberto”.