Mulheres encaram as delícias e solidões da independência cada vez mais jovens

Mesmo com desafios, muitas jovens decidem construir suas próprias vidas longe de casa e istram sentimentos conflitantes como a liberdade e a solidão

Volta e meia o tema “vida adulta e seus desafios” pinta aqui nesta coluna. Isso porque o assunto é relativamente novo para mim e acredito que, assim como eu, muitas mulheres estão conquistando sua independência cada vez mais jovens – e com isso as responsabilidades também chegam cada dia mais cedo.

Os desafios são inúmeros, desde a primeira declaração de imposto de renda – por onde começar? -, documentação que precisa ser renovada, impostos que precisam ser pagos e a saúde. Você, mulher, já foi no ginecologista este ano?

Catarinense decidiu construir a própria vida em outro país mesmo estando sozinha – Foto: Reprodução/Internet/Fer RebelloCatarinense decidiu construir a própria vida em outro país mesmo estando sozinha – Foto: Reprodução/Internet/Fer Rebello

Ainda assim, com todos estes desafios muitas mulheres decidem sair de casa e construir sua própria vida, seja na cidade vizinha – como eu – ou em outro país com uma cultura totalmente diferente. O último caso é o da catarinense Fer Rebello, de 27 anos, que saiu de casa para um intercâmbio de no máximo dois anos, mas decidiu ficar e morar na Irlanda.

A história de Fer demonstra muita coragem e vontade de viver o novo, conhecer o mundo e construir sua própria história sozinha. Mesmo que isso represente sentimentos intensos e conflitantes, como solidão e, quase simultaneamente, alegria por realizar todos os dias um sonho.

Março de 2020

Fer conta que nunca teve o sonho de morar fora do Brasil, mas tinha vontade de conhecer outros países, para isso ela trabalhava e economizava o máximo possível de dinheiro. Até que sua melhor amiga surgiu com a proposta de fazer um intercâmbio na Irlanda juntas.

“Na época eu tinha uma visão limitada, até por questões financeiras, então para mim conhecer cinco países já era o auge, o máximo. Enfim, era o meu sonho. Foi quando a minha melhor amiga surgiu com a proposta de fazermos um intercâmbio na Irlanda, e eu não fazia ideia dessa possibilidade. Acabou que algumas coisas aconteceram no Brasil e eu me vi com a possibilidade de morar fora, pois eu tinha uma grana guardada para fazer essa viagem”, conta Fer.

O intercâmbio trazia a possibilidade de trabalhar e estudar, uma forma de fazer com que a catarinense se sustentasse além da grana guardada. Apesar da boa remuneração no país, Fer explica que o custo de vida também é elevado. Quando chegaram, em março de 2020, as duas enfrentaram ainda o início da pandemia de Covid-19, restringindo ainda mais as possibilidades de renda.

“A gente chegou na Irlanda em março de 2020, justamente o dia em que anunciaram a pandemia. Até então os casos existiam, mas não eram suficientes para considerar uma pandemia. Enfim, aconteceu tudo muito rápido, quando a gente estava na conexão foi quando soubemos que nossas escolas iriam fechar”, detalha.

> Não ouça a sua impostora!

O que mesmo com as dificuldades parecia uma possibilidade incrível para Fer, para a amiga houve mais pontos negativos do que positivos e ela decidiu voltar para o Brasil. A catarinense, no entanto, decidiu seguir morando em outro país totalmente sozinha.

“A minha amiga ficou bem triste, bem mal, mas eu segui confiante e otimista. Uma deu apoio para a outra. Por conta da pandemia ela não se adaptou, também por questões pessoais, e resolveu voltar. Já eu, quando comecei a trabalhar aqui, percebi a grana que poderia fazer”, explica Fer.

De descendência italiana, Fer trabalhou para tirar a cidadania dela e continuar no país como uma cidadã europeia, tudo isso no meio de um lockdown.

Diversas cidades no Brasil e no mundo anunciaram medidas restritivas, como o ‘lockdown’ para frear o avanço da pandemia de Covid-19. – Foto: Corpo de Bombeiros/DivulgaçãoDiversas cidades no Brasil e no mundo anunciaram medidas restritivas, como o ‘lockdown’ para frear o avanço da pandemia de Covid-19. – Foto: Corpo de Bombeiros/Divulgação

“Quando minha amiga foi embora, me senti realmente sozinha, tendo que me virar e cuidar de mim mesma. Um dos principais desafios de morar em outro país sozinha é não ter a família perto, é bem difícil. Você perde muitos momentos com a sua família, momentos tristes e difíceis que você gostaria de estar lá e prestar apoio, e os momentos felizes, mas são escolhas”, ressalta Fer.

A hora de sair do ninho

Realmente são muitos os desafios, mas a sensação de estar crescendo e escrevendo a própria história motiva pessoas como a Fer a continuar determinada a conquistar seus próprios sonhos. A psicóloga Maria Verônica Zink explica quais gatilhos mentais nos sabotam e quais fazem a gente persistir nesta jornada de “sair do ninho” familiar.

“Acredito que definir metas na vida são importantes, por exemplo, se questionar o que quer para pequeno, médio e longo prazo. Muitos sonhos precisam de organização, a independência financeira é uma delas, muitas vezes as pessoas fazem as coisas no impulso e acabam por ter que dar alguns os para trás e se frustram muito por isso”, começa Verônica

“Precisamos entender que as fases da vida elas vem com o tempo, não precisamos apressar a nossa jornada, mas precisamos organizar alguns os. Acredito que ter conhecimento sobre finanças, é também muito importante”, explica a psicóloga.

“Viver é sentir!”

Verônica completa explicando que ao invés de lutar contra os sentimentos, é melhor aceitarmos e istrarmos eles, alegrias e tristezas serão constantes em nossas vidas.

“Viver é sentir, sempre! Toda mudança sempre irá trazer sentimentos complexos, mas precisamos aceitar nossos sentimentos, mesmo aqueles que não gostamos. A solidão faz parte de quem vai morar sozinho e não tem mais aquele agito de uma casa cheia, mas junto a pessoa vai aprender a lidar consigo mesmo, a fazer muitas refeições sozinha, aprender a ar pelas dificuldades e as vezes não ter a quem recorrer”, salienta.

Maria Verônica é psicóloga focada na saúde mental, tema que ela aborda em seu site – Foto: Arquivo Pessoal/ReproduçãoMaria Verônica é psicóloga focada na saúde mental, tema que ela aborda em seu site – Foto: Arquivo Pessoal/Reprodução

Mas nem só de angustias é feita a vida adulta. “Alegria também faz parte de cada desafio cumprido, cada conquista que foi possível, bem como a saudade de uma vida que está evoluindo e que com a mudança perdemos e ganhamos coisas, momentos, pessoas, etc”, destaca Verônica.

Sentimentos comuns entre quem está crescendo

O que Fer sente em outro país com cultura, língua e estilo de vida completamente diferentes, muitas pessoas sentem mesmo morando no próprio país, ou até no mesmo Estado que a família. A responsabilidade – e peso – de que, se qualquer coisa acontecer, você é a única responsável por você mesma.

“Além de você cuidar de você mesma, se você ficar doente ou qualquer coisa acontecer com você, é você quem vai ter que resolver. Por mais que você faça amigos, no momento em que você fica doente, ou com a possibilidade de ficar sem casa, por exemplo, é você quem tem que resolver”, desabafa.

Construindo a própria vida

Conquistar a independência financeira e viajar com mais facilidade foi o que encorajou Fer a continuar morando tão longe da família.

“O meu primeiro clique do quanto eu poderia conquistar aqui foi quando eu fiz uma viagem, em 2020, de cinco dias no sul da Itália. Para isso a gente trabalhou uma semana, em uma fábrica, um trabalho horrível, mas o suficiente para aproveitar cinco dias em um lugar lindo e comendo bem”, avalia.

“Foi aí que eu percebi que poderia fazer uma viagem todo mês e poder aproveitar as coisas que eu mais amo fazer na vida, além de conseguir realizar e comprar as coisas com uma qualidade de vida melhor”, explica.

Crise imobiliária

Não só a cultura, mas as crises políticas e humanitárias também são diferentes em outros países (e existem assim como no Brasil). Fer conta que, no momento, a Irlanda a por uma crise imobiliária.

O que tem motivado essa crise é a quantidade de pessoas que decidiram conhecer o país após a pandemia e também a imigração por conta da guerra na Ucrânia.

Vista dos danos causados no prédio da prefeitura de Kharkiv – Foto: Sergey Bobok/AFP/NDVista dos danos causados no prédio da prefeitura de Kharkiv – Foto: Sergey Bobok/AFP/ND

“É importante dizer que agora está tendo uma crise imobiliária muito forte na Irlanda, tem muita gente que não tem onde morar, muita gente adiou a vinda de intercâmbio por conta da pandemia, e decidiu vir agora, além da guerra na Ucrânia, enfim”, destaca.

“Não está tendo acomodação pra todo mundo, está bem difícil, então pra quem está querendo começar a vida fora eu acho que não é o momento ideal, finaliza.

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