As influências negras no Brasil aparecem de forma muito evidente em palavras e expressões usadas hoje no nosso dia a dia. As palavras caxumba, fuga, capanga, jujuba, milonga, entre outras, são de origem africana e foram integradas ao nosso vocabulário. Essas palavras criaram raízes por aqui após a vinda dos negros que foram traficados para o nosso país. Eles falavam apenas sua língua de origem – vindas de duas grandes regiões: a bantu e a sudanesa.

Estima-se que cerca de cinco milhões de africanos foram forçados a aprender a língua dos seus colonizadores aqui no Brasil. Mesmo assim, a força dessa cultura tornou inevitável a integração do vocabulário negro e indígena na língua portuguesa.
Veja a versão em vídeo na reportagem da série Vozes da Consciência

É muito comum ouvir, especialmente de parentes mais antigos, que íamos receber uma sova – sovar ou surrar é uma palavra de origem africana. Gandaia também, no sentido de farra, algazarra. E calombo, para descrever um hematoma, quem nunca usou após bater a cabeça?
É por isso que essa contribuição também a a ser algo cultural. A professora Jeruse Romão reforça: “Não é só expressão cultural. Cultura também é um jeito de viver, de existir. É um tempo que os africanos trazem para Santa Catarina modos de viver e de sociabilidade que estão presentes ainda no espírito comunitário, na atenção ao outro, na assistência ao outro, que são muito próprios da cultura africana”.

Os ancestrais negros também agregaram na culinária. Em todo o país, é difícil quem não goste de uma feijoada, um dos pratos mais reconhecidos como “brasileiro”, ou até mesmo a canjica. Mas nem só de doces lembranças vivem as palavras e expressões africanas.
Racismo estrutural z5d6p
Na mesma linha de contribuição – só que totalmente fora de contexto – se usam com bastante frequência ações feitas pelos escravos no ado ou características da população negra para tentar definir algo ruim ou menor. São as expressões racistas que muitos denominam como racismo estrutural. É o caso do termo feito nas coxas, que nasceu da arte de moldar as telhas feitas de argila nas coxas dos escravos – por não ficarem com um formato linear – hoje a expressão é erroneamente utilizada para algo feito de qualquer jeito.
Tem ainda quem afirme que cabelo crespo é “cabelo ruim”. Infelizmente, não para por aí. Essas expressões vêm atravessando gerações. No país e aqui no estado estamos impregnados de ações que fazem parte da cultura negra. Na arte e na fé. Temos as religiões de matrizes africanas com terreiros espalhados por todas as regiões. A capoeira tem vários mestres de referência no estado e o próprio samba, que já é considerado o melhor do sul do país.
Exemplos de palavras e termos com origem racista 4b6372
Doméstica – nome dado às mulheres negras que trabalhavam em casa de famílias brancas – como eram consideradas animais – precisavam ser domesticadas.
Criado mudo – é aquele móvel que fica ao lado da cama, mas a origem vem de um dos papéis executados pelos escravos. Muitas vezes eles tinham que ficar de prontidão, mudos, ao lado da cama ou da mesa de jantar de seus “donos” por horas.
Inveja branca – expressão que associa o negro ao comportamento negativo. Inveja é algo ruim, mas é como se o fato dela ser branca suavizasse a palavra.
Preconceito racial em números k3l2c
Para quem ainda questiona a existência do racismo e da intolerância, os números não mentem. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Estado, os dados de racismo e injúria racial são alarmantes.
Em 2018 foram 238 registros, caiu para 101 em 2020 e até o momento são 71 casos confirmados. Pode parecer que estamos evoluindo, correto? Não é o caso. As ocorrências, apesar de graves, acabam sendo enquadradas no crime de injúria racial e nesse caso os números só crescem. Em 2018 foram 1095 registros, pulando para 2897 em 2020 e até agora já temos 1703 confirmações em todo o estado, mesmo em meio à pandemia.
“Houveram muitos avanços, mas ainda estamos estagnados do ponto de vista do preconceito racial, dos crimes raciais que ainda são cometidos contra o nosso povo nos dias atuais. A gente dá um o pra frente e volta dois. Três os à frente e volta um. É tudo uma construção”, explica o advogado e ativista Marco Antonio André.
* Colaboraram Ana Assunção e Suzan Rodrigues
Capítulo 1 – Vozes da Consciência: O que é consciência negra?
Capítulo 3 – Essa reportagem que você leu aqui
Capítulo 4 – A segregação racial escondida por décadas em nossa história oficial
Capítulo 5 – Crescimento no empreendedorismo negro revela histórias de sucesso contra o preconceito
Especial: Homenagem em vídeo para o Dia da Consciência Negra