Famílias inter-raciais: dos desafios na criação dos filhos ao termo ‘palmiteira’ 3u16i

É, o tema é complexo! Mas é para refletirmos e não para levantar bandeira alguma. Até porque a realidade (até pouquíssimo tempo atrás) de família na cabeça da grande massa era aquela do comercial de margarina: o casal branco e heterossexual. Só que já naquela época as formações familiares brasileiras eram marcadas por infinitas diferenças, inclusive de raça.

Casais inter-raciais compõe 30% das famílias brasileiras – Foto: Freepik/DivulgaçãoCasais inter-raciais compõe 30% das famílias brasileiras – Foto: Freepik/Divulgação

Um dado recente, aliás, afirma que casais inter-raciais representam 31% das casas brasileiras. Temos esse número expressivo e agora vamos para a reflexão: a autoestima dos filhos e o impacto do termo “palmiteiro” na vida dessas famílias.

Pouco se fala sobre isso, mas olha que interessante: o Censo de 1960 apontava que 8% dos casamentos eram entre pessoas que se autodeclaravam como sendo de raças diferentes. As décadas seguintes registraram um aumento significativo e, em 2010, o percentual saltou para 31% – é o último dado oficial. Ou seja, mais de um terço das uniões matrimoniais realizadas no Brasil são inter-raciais.

Por que falamos pouco sobre isso? 5t1u5l

Qual a importância dessa informação? Me digam vocês, mulherada! O fato de falarmos pouco sobre isso teria a ver com a miscigenação que ocorreu em solo brasileiro? É importante ressaltar que as relações inter-raciais não são recentes. Existem desde o tempo da Colonização. E foram surgindo principalmente a partir da violência cometida por homens brancos portugueses contra mulheres negras ou indígenas.

Talvez por isso exista o julgamento de certa forma negativo, quando o negro se relaciona com uma branca. E mais ainda quando uma negra, assim como eu, se relaciona com um homem branco. Somos chamadas de “palmiteiras”.

O que é “palmiteira” 2d3w6b

“Palmitar” e suas derivações “palmitagem”, “palmiteiro”, “palmiteira” são neologismos criados para o ato de uma pessoa negra se envolver de forma romântica com uma pessoa branca.

Explicado o significado do termo, vamos refletir juntos sobre essa realidade? Começando pela solidão da mulher negra, que é uma das consequências dessa “palmitagem” e do racismo estrutural. Uma pesquisa do IBGE nos mostra: a quantidade de mulheres negras em união não estável no Brasil é de 52,52% (mais da metade em relação àquelas casadas).

Tensões entre cor e amor 6f1m2d

Falando da família inter-racial, a psicóloga social Lia Vainer Schucman descreveu em entrevista no ano ado que “uma mesma família pode ser considerada inter-racial para um de seus integrantes e não ser para outro. Além disso, uma família pode ser vista como inter-racial no Rio Grande Sul e como branca na Bahia”.

No livro de Lia, intitulado “Famílias inter-raciais: tensões entre cor e amor”, ela compartilha histórias dolorosas de violências sofridas por pessoas negras justamente no ambiente de onde se espera que venha o acolhimento: suas casas. Para a obra foram entrevistadas 13 famílias de diferentes regiões de São Paulo e em todos os casos fica evidente que, infelizmente, racismo e amor coexistem.

Eu tenho um filho de traços negros, o mais velho. Já o mais novo tem cabelos cacheados loiros e a pele branca como um papel. Como será que ele se auto afirmará?

Filhos de pele branca com pais inter-raciais também têm dificuldade para lidar com o preconceito (que muitas vezes não é diretamente direcionado a eles quando tem a pele mais clara). Mas afeta igual…

Tem ainda a questão de convívio do casal. Afinal, é só no dia a dia que o choque de realidades aparece entre o homem e a mulher. Inclusive ruindo o mito da democracia racial. Explico: se eu for a algum local desarrumada é possível que eu e por certo constrangimento. Se meu parceiro branco for da mesma forma (desalinhado ou de chinelo), deve ar despercebido.

Dentro de casa, as limitações que vivi pelo preconceito jamais serão vividas por quem estiver ao meu lado, caso ele seja branco. Nossos filhos, sim, podem ter o reflexo direto do preconceito velado. Por isso o combate ao racismo é um exercício diário, constante.

O ideal, a meu ver, é positivar a negritude da família. Ressaltando sempre que a raça não deve ser um impeditivo, assim como o tom de pele mais claro de um dos filhos não é um facilitador ou uma benção.

Mostrar que a casa da gente é de um jeito e que na rua pode ser diferente, preparando os filhos, de forma coerente, para essas “diferenças”. Esse pode ser o caminho para uma orientação racial sustentável e positiva dessas crianças.

Lia afirma que a raça é um “significante flutuante” e dá exemplos: “vamos supor que meu filho aprenda que ser negro é lindo. E aí ele vai na escola e alguém o chama de macaco. Ele tem dois significantes: o positivo e o negativo. Mas o significante positivo veio daqueles que o amam e isso lhe dá força para responder e falar que a pessoa é racista. Se as mensagens de casa e de fora forem a mesma, ele pode acreditar que é inferior”, explicou em entrevista. É um caminho!

Somos coloridos! Nosso país é! E isso precisa servir de incentivo para que nossos relacionamentos sejam sadios. Para que nossos filhos cresçam tendo a certeza de que são capazes de qualquer coisa, como qualquer um de nós! Não é verdade?

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