Crescimento no empreendedorismo negro revela histórias de sucesso contra o preconceito 3i413l

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Na linha de frente, em busca de reconhecimento, lei que obriga o ensino da história e da cultura afro-brasileira nas escolas gera consciência

Oficiais, médicos, modelos, advogadas, diretores de instituições, historiadores, doutores e escritores. São alguns exemplos de negros que atravessaram a barreira do preconceito e venceram dificuldades. São esses exemplos que vamos destacar hoje no Dia Nacional da Consciência Negra.

Sim, o racismo é uma prova de força.
É uma prova inglória…
Que já ou da hora de acabar,
E só quem ou por ela,
Sabe dizer… a dor que dá!

A tenente-coronel da reserva da PMSC e poeta Edenice Fraga – Foto: Reprodução / NDTV Record TVA tenente-coronel da reserva da PMSC e poeta Edenice Fraga – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

O trecho deste poema traduz a intensidade do que sentiu a mulher que coleciona homenagens ao longo de uma carreira de currículo extenso. Ela também ou por racismo. “Quando se está em um cargo de chefia, ainda existem pessoas que não item uma chefia de pessoa negra”, revela Edenice Fraga, tenente-coronel da reserva da PMSC e poeta.

Veja como ficou essa reportagem em vídeo na série da NDTV Record TV

Já em outra área, Elisa Freitas tem hoje o rosto estampado em várias campanhas publicitárias por todo o estado. Já foi rainha, miss e hoje divide a apertada agenda com os compromissos de empreendedora, já que tem uma marca social com a irmã Ro Freitas. Como modelo profissional, ela se reinventou na pandemia e ou a ser uma das mais procuradas no segmento.

A modelo Elisa Freitas – Foto: Reprodução / NDTV Record TVA modelo Elisa Freitas – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

“Fui contratada por uma empresa aqui em Florianópolis e eu tive uma experiência bem bacana de estar eu mesma fazendo produções com marcas dessa empresa”, conta a produtora de moda Elisa Freitas.

Histórias de ascensão mesmo diante das dificuldades como a da coronel Edenice e da Elisa ainda são casos isolados. No país, as portas vêm se abrindo ao longo dos últimos 5 anos no mercado de trabalho, mas os números ainda estão longe de serem igualitários.

Longe da igualdade 58376p

De acordo com dados do IBGE, a diferença salarial entre brancos e negros é de 45%. Precisa dizer quem ganha mais ou o leitor consegue adivinhar sozinho? Mas há avanços. No ano anterior o mesmo IBGE trouxe dados ainda maiores. Os trabalhadores brancos recebiam, em média, 75% a mais do que um funcionário preto ou pardo.

O sociólogo João Carlos Nogueira explica: “Isso é a perversidade do racismo. Precisamos sempre entender que o Brasil pode se desenvolver do ponto de vista do seu capitalismo, da sua indústria, do seu comércio, mas manter essa estrutura que depois nós amos a denominar como racismo estrutural, racismo sistêmico, que se mantém nas relações de trabalho”.

Outro exemplo que fugiu das estatísticas existentes para a população negra é o de um ex-atleta de basquete que hoje está à frente de uma entidade esportiva. “Trabalhamos 45 anos praticamente, desde o início da vida esportiva lá com 10 anos, em vidas paralelas: estudando e treinando pra que essas conquistas no futuro se concretizassem”, conta Kelvin Nunes Soares, Presidente da Fesporte.

O presidente da Fesporte Kelvin Nunes Soares – Foto: Reprodução / NDTV Record TVO presidente da Fesporte Kelvin Nunes Soares – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

Uma questão que também faz a diferença para um cargo com maior visibilidade é a de famílias que se doam para que os filhos tenham experiências melhores do que as suas no futuro. O resultado desse incentivo que iniciou dentro de casa fez com que a dra. Caroline garantisse seu lugar ao sol.

A advogada Caroline da Rosa Vizeu – Foto: Reprodução / NDTV Record TVA advogada Caroline da Rosa Vizeu – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

“Eu fui muito inspirada pelo meu pai a entrar no Direito, a estar na universidade. E fui aprendendo aos poucos a importância de ocupar os espaços”, conta a advogada Caroline da Rosa Vizeu.

Com o cardiologista Walter da Luz, a história não foi muito diferente. Ele aprendeu desde cedo que tinha que sempre ser o melhor para conseguir alcançar algum nível de igualdade:

O cardiologias Walter da Luz – Foto: Reprodução / NDTV Record TVO cardiologias Walter da Luz – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

“Eu só fui ter contato realmente com a realidade do que é ser negro ou branco no ginásio de Aplicação, quando o professor e o educador perguntaram porque eu era bom aluno, o que eu queria ser quando crescesse. Eu respondi que queria ir para a Marinha. E eu ouvi: ‘Tu sabes que tu és negro?’ Até eu entender o que era ser oficial na marinha, entendi também que eu precisaria ser um dos melhores alunos, se não o melhor aluno, para conseguir entrar”, conta o hoje cardiologista Walter da Luz. A pandemia pode até ter atrapalhado um pouco o processo, mas não interrompeu a evolução.

O País conta com mais de 5,8 milhões de empreendedores negros, movimentando um pouco mais de R$ 219 bilhões de reais por ano, de acordo com a pesquisa do Instituto Locomotiva no ano de 2020. Mas a pesquisa mostrou também que, mais uma vez, os impactos das crises foram sentidos de forma mais forte pela população negra. O percentual de pretos e pardos com empresas ainda fechadas ou negócios interrompidos na pandemia é de 18%. Entre brancos, o índice é de 15%.

Lei 10.639 entra em vigor em 2022 em SC 3w2i3t

E se ainda temos intolerância e preconceito, outra iniciativa que pode combater o racismo está na sala de aula. Vigente desde 2003, existe uma lei que torna obrigatório a inclusão e o ensino da história e da cultura afro-brasileira nos ensinos fundamental e médio (Lei 10.639), mas só agora é que ela entrará em vigor, 19 anos depois.

O sociólogo João Carlos Nogueira – Foto: Reprodução / NDTV Record TVO sociólogo João Carlos Nogueira – Foto: Reprodução / NDTV Record TV

“É tão importante que a lei, ela seja cada vez mais presente no sistema educacional, nas redes municipais e estadual consagrada não só como uma obrigação mas como uma necessidade pra que a gente possa resgatar a história do povo negro, a história do povo africano”, reforça o sociólogo João Carlos Nogueira.

Ainda há muito a ser feito, mas esse caminho é, todos os dias, entender que ter consciência sobre a participação negra na nossa história é o que vai mudar totalmente o modo como você encara o outro, independente da sua cor.

* Colaboraram Ana Assunção e Suzan Rodrigues

Capítulo 1 – Vozes da Consciência: O que é consciência negra?

Capítulo 2 – Vozes da Consciência: Conheça heróis negros catarinenses que não estão nos livros escolares

Capítulo 3 – Vozes da Consciência: Influências negras vão das palavras até os pratos da gastronomia brasileira

Capítulo 4 – Vozes da Consciência: A segregação racial escondida por décadas em nossa história oficial

Capítulo 5 – Essa reportagem que você acabou de ler aqui

Especial: Homenagem em vídeo para o Dia da Consciência Negra