Donas de suas histórias, guerreiras, pioneiras, exemplos de superação e à frente de seu tempo. Em Blumenau, terceira maior cidade de Santa Catarina, são muitas as mulheres que revolucionaram e transformaram a sociedade local, desde seus primórdios. Para comemorar o Mês da Mulher, o ND+ preparou uma série de reportagens especiais. Na primeira, o destaque fica por conta de mulheres do Vale do Itajaí marcadas pelo carinho e respeito aos animais.

Desde o início da colonização de Blumenau, em 2 de setembro de 1850, uma personagem que se destaca no assunto é Edith Gaertner. Sobrinha-neta do fundador da cidade, Hermann Bruno Otto Blumenau (1819-1899), Gaertner nasceu em Blumenau em 22 de março de 1882.

Edith era muito independente para os padrões da época. Aos 20 anos, viajou para Alemanha e cursou a Academia de Arte Dramática, em Berlim. Durante a juventude, a atriz percorreu as principais cidades da Europa, atuando em peças nos mais renomados palcos de teatro. Em 1924, voltou a Blumenau para cuidar de irmãos que haviam adoecido.
Em entrevista ao ND+, a historiadora Sueli Petry considera a personagem como uma mulher à frente de seu tempo. Segundo ela, motivos não faltam para esta classificação.
“Imagine o quando não foi censurada, por estar fora dos padrões da época? Era uma mulher livre, teve os seus amores. (…) Lia muito para ocupar o tempo, possuía uma máquina fotográfica com a qual fazia registros do seu cotidiano e da natureza do horto que a cercava na casa centenária, que fora dos seus pais”, conta a historiadora.
Caçula de oito irmãos, o grande legado de Edith Gaertner vai além da vocação artística. A personagem tinha o hábito de cuidar dos animais de estimação.
Cemitério de gatos 2j6my
Seu carinho, principalmente pelos gatos, era tanto que a sobrinha-neta do desbravador de Blumenau fazia até funerais para o sepultamento de seus bichinhos na presença de familiares, nos fundos da casa onde morava. A construção abriga hoje o Museu da Família Colonial, na Alameda Duque de Caxias.
“Estes rituais fúnebres sempre foram contados pelos ex-funcionários que estiveram ao lado de Edith, como empregadas domésticas e colaboradoras. Enfim, virou algo lendário”, relata Sueli Petry.
Nove túmulos dos felinos seguem expostos para a visitação da comunidade. A propriedade foi doada ao município de Blumenau, que mantém a estrutura até os dias de hoje através da Fundação Cultural.
Edith Gaertner morreu solteira e não teve filhos. Aos 85 anos de idade, ela acabou falecendo no dia 15 de setembro de 1967.
“O cemitério de Gatos foi criado neste formato que existe hoje após a sua morte em 1967. O então diretor da Biblioteca Pública, professor José Ferreira da Silva, que a conhecia muito bem e a visitava com idade avançada, idealizou este espaço como uma forma de referendar Edith, como defensora dos animais”, finaliza a historiadora.
O Museu do Cemitério de Gatos é aberto para visitação de terça-feira a domingo. O local possui entrada gratuita e fica aberto à comunidade das 10h às 16h.
Defensoras dos animais nos dias de hoje 6164o
Atualmente, uma personagem que dedica sua vida pelos animais é Lucia Westphal, mais conhecida como Dona Lucia. Aos 64 anos de idade, a protetora dos animais diz que sua inspiração para resgatar animais teve início nas grandes enchentes de 1983 e 1984, que castigaram Blumenau.
Na época, Lucia morava na rua XV de Novembro, no Edifício Edelweiss, próximo da Igreja Matriz. Ela testemunhou de perto as inundações que tomaram conta da cidade.
“Na época, as águas subiram muito rápido no centro de Blumenau e muitas pessoas acabaram deixando seus animais para trás. Foi aí que eu comecei a realizar adoções, a cuidar dos bichinhos e desde então eu não parei mais”, relata a protetora animal.
Posteriormente, Dona Lucia mudou-se para o distrito do Belchior, em Gaspar, onde continuou realizando o trabalho de acolhimento, mas precisava de um espaço maior. “Foi por volta de 1998 que eu me mudei para a Vila Itoupava e há 25 anos estamos aqui fazendo este trabalho”, relembra.
Perguntada sobre o engajamento das mulheres na causa animal, Dona Lucia é enfática. “Aqui em Blumenau, a proteção animal é feita 95% por mulheres. As mulheres quando arregaçam as mangas você sabe que ninguém segura”, afirma de forma convicta.
Instituição conhecida 4k6cu
Em várias reportagens, o Grupo ND mostrou a realidade do Sítio Dona Lucia, que atua há mais de 30 anos no acolhimento de animais em situação de rua. Atualmente, cerca de 1,5 mil animais estão na instituição.
“Todos que estão aqui gostam realmente de animais, até pela quantidade que tem e pelo trabalho em si. (…) Inclusive, nesse mês de março, a gente vai fazer a campanha do março roxo. O sítio vai estar engajado em uma campanha de inclusão daqueles animais que ninguém quer”, relata a responsável pelo sítio.
Doação recorde que veio em boa hora c2r4a
Recentemente, o Sítio recebeu uma doação de 2,5 toneladas de rações e alimentos, em parceria com a Polícia Civil de Pomerode. Por estar em recuperação médica, ela não acompanhou o recebimento dos donativos.

Ao ND+, Dona Lucia agradeceu aos envolvidos com a força-tarefa. A cuidadora de animais ressalta que a doação veio em boa hora, já que existe uma tradicional diminuição de doações no início de ano.
“Foi uma surpresa muito grande quando o delegado (Antônio) Godoi me avisou que estava fazendo uma campanha para o sítio de doação de ração (…) O sítio gasta hoje quase 9 toneladas/mês de ração. Imagina o que seria ganhar 3”, conta.
Sobre o Dia Internacional da Mulher, Lucia Westphal finaliza parabenizando as voluntárias que se dedicam a essa causa e lembrou de outras pessoas realizam a mesma missão de acolher os animais, em Blumenau e no Vale do Itajaí.
“Me sinto orgulhosa por muitas voluntárias que eu tenho que deixam muitas vezes até família de lado e tudo mais para ajudar o sítio. (…) Eu quero parabenizar todas elas, não só as mulheres protetores de animais, como aqui em Blumenau nós temos uma protetora animal de 79 anos que é a Edna. A gente é amiga, tem meu respeito e minha iração também. Quero parabenizá-las nesse dia, que todas também podem contar comigo”, finaliza Lucia Westphal.