Um voo fretado pelo governo brasileiro trouxe cerca de 300 pessoas vindas da Índia para o Brasil em um voo de repatriação. Entre os ageiros que desembarcaram em Florianópolis na noite desta quarta-feira-feira (15), após 30 horas de voo, estava a jornalista e empresária catarinense Samira Campos.
Ela relatou como foi o processo de retorno, a percepção sobre o isolamento imposto pelo governo do primeiro-ministro Narendra Modi e a operação de resgate.
A preparação para o retorno 1j2ko
O voo de repatriação partiu de Nova Delhi na noite desta terça-feira (14) – com fuso horário de oito horas e meia à frente do horário de Brasília – e chegou em Guarulhos (SP) nesta quarta (15).
Saímos de [Nova] Delhi na noite anterior, escoltados em vários ônibus, uma operação incrível, com a polícia controlando todos os nossos os, principalmente dos estrangeiros.
Para organizar os embarques, a Embaixada do Brasil na Índia levou brasileiros de seis pontos até as cidades de Delhi e Mumbai, onde foi feita uma escala para embarque de parte dos repatriados.
Samira, que embarcou em Nova Delhi, lembra que desde os contatos com a Embaixada para organizar a viagem até o embarque foi pouco mais de um mês.
“Saímos de [Nova] Delhi na noite anterior, escoltados em vários ônibus, uma operação incrível, com a polícia controlando todos os nossos os, principalmente dos estrangeiros. Foram mais de 300 brasileiros, cujos voos foram cancelados devido ao lockdown, que foi estendido até meados de maio”, descreve.

Ela conta que o governo brasileiro assumiu, por meio da Embaixada, toda a organização para trazer de volta os brasileiros que estavam não apenas na região de Nova Delhi, mas também de outras 13 cidades da Índia.
O embaixador André Aranha Corrêa do Lago acompanhou o embarque de todos no Aeroporto Internacional Indira Gandhi, de onde partiu o maior contingente de brasileiros.
Controle rigoroso de circulação 6b534d

As regras de isolamento social – ou lockdown – foram impostas no final de março. “Acredito que seja um dos lockdowns mais rigorosos. Pra gente ir até a esquina, tem barreira. Comprar uma fruta, um legume, está difícil. A gente depende das outras pessoas. A gente viu uma restrição muito difícil, inclusive para os indianos, e que foi imposto pelo primeiro-ministro Narendra Modi”, lembra Samira.
Apesar disso, o clima dentro da aeronave se misturava entre o alívio de uns, voltando para junto de seus familiares, e de festejo para outros. “O voo foi delicado, porque tinha turmas cantando como se fosse férias de escola e sem máscara e eu, assim como a maioria, estávamos com máscaras”, descreve.
Pandemia mudou a visão sobre os estrangeiros x3i45
“Nós sentimos que o jogo virou [com o coronavírus]. Antes, nós estrangeiros éramos tratados com todas as pompas, mas quando os primeiros italianos já contaminados entraram na Índia, foram vistos como os que estavam espalhando os vírus. E depois, todos os estrangeiros começaram a sofrer um preconceito muito grande. Claro que a índia também existe um lado de pessoas simples que não entendem, que se viraram contra nós, é difícil sair na rua porque nós éramos vistos como os espalhadores do vírus e foi muito difícil. Nós fomos expulsos de hotéis e casas. Muitos brasileiros tiveram dificuldade de encontrar comida, de encontrar abrigo. Os hotéis fecharam e não poderão mais receber”.
“Minha filha mora lá e fui para ver o nascimento do bebê e para trabalhar com várias comunidades de artesãos da região do Rajastão”, conta Samira, que atua na moda há mais de 30 anos.
Foi tudo muito rápido, ninguém esperava que tudo fosse cancelado, que os voos não fossem mais sair para o Brasil, e o espaço aéreo fosse fechado.
Mas os planos dela mudaram rapidamente, com o avanço da pandemia em território indiano. “Eu já tinha agem comprada, a minha produção já estava todo vapor e a ideia era conseguir terminar tudo para encaminhar para exportação, mas tudo aconteceu muito rápido, a gente não imaginava que tudo fosse assim, que a progressão desse vírus fosse tão violenta!”.
E os dias evoluíram como se fossem horas, com as decisões que levaram inclusive ao fechamento do espaço aéreo. “A minha agem estava marcada para o dia 8 de abril, eu dissesse ‘bom, isso deve acontecer lá para maio ou junho’, mas foi tudo muito rápido, ninguém esperava que tudo fosse cancelado, que os voos não fossem mais sair para o Brasil, e o espaço aéreo fosse fechado”.
Quarentena obrigatória e consciência 10z5e
“Apesar de muito cansada, estou feliz de estar de volta em casa, com os amigos. Agora vamos entrar em uma quarentena de 14 dias, sem poder sair de casa, como foi orientado pelo governo”, contou, logo depois de desembarcar.
Ao final, ela refletiu sobre a importância do isolamento social neste momento. “Eu acho que é importante ser levado a sério, mas o Brasil está brincando, não tá sentindo o peso desse vírus invisível. Eu fiquei muito preocupada em ver pessoas esperando no aeroporto, porque não é hora de aglomeração, é hora de restrição. Mas ainda tem pessoas alienadas da importância e da responsabilidade de se proteger e proteger o outro”.