Praticamente todos os dias são assim. O aposentado Lucio Santos da Silva, 76, acorda, toma café, e se prepara para um animado jogo de dominó com seus amigos durante a tarde, na praça XV de Novembro, localizada no coração do Centro de Florianópolis.

O local já é conhecido por ser um ponto de encontro para aposentados que apreciam não apenas partidas de dominó, mas xadrez, baralho, e outros jogos.
Na visão do aposentado, que pratica dominó quase todos os dias por três anos desde a sua aposentadoria, o jogo é uma excelente oportunidade para manter e fazer novos amigos.
“O dominó serve para unir as pessoas de mais idade aqui na praça. Jogamos aqui continuamente já há alguns anos e sempre com a intenção de angariar mais amigos. É um divertimento nosso”, relata Lucio.
Além de ser um excelente entretenimento, o dominó tem um importante papel na melhoria da saúde cognitiva dos idosos. O aposentado revela que percebe o impacto da prática no dia a dia.
“É evidente que o jogo do dominó puxa pela nossa memória. Temos que estar todo o tempo ligados na pedra que cai, nas pedras que você tem, na pedra que você quer que venha. Trabalha não somente a memória, mas a atenção, com certeza”, destaca.
Ainda na praça, algumas mesas ao lado de Lucio, se encontrava o aposentado Orlando Guedes da Fonseca, 66.
Jogando partidas de tranca com os amigos e acompanhando seu pai, também faz questão de ir à praça quase todos os dias.

“Eu acompanho meu pai que mora aqui no Centro. Já eu moro em Coqueiros, mas quase todos os dias estou por aqui. Acaba sendo um ponto de encontro nosso. Uns dias venho pra jogar, outros somente para assistir, mas, de qualquer forma, é um atempo”, conta Orlando.
O aposentado observa que o baralho, da mesma forma que o dominó, também contribui para estimular a cognição.
“Eu percebo muito, muito mesmo. Não é somente o baralho. A maioria dos jogos são bons para o pensamento, rapidez, para tudo. A atividade que praticamos aqui ajuda o cérebro da pessoa”, reflete.
Orlando também aproveita o espaço para expressar uma crítica em relação ao local. Ele relata que a praça é um ponto de encontro para todas as pessoas que desejam compartilhar experiências e se divertir, porém, nota um certo descaso em relação à sua manutenção.
“Aqui nós nos divertimos, amos o tempo, exercitamos a cabeça e muito mais que isso. Mas queria mais atenção com esse lugar. As mesas e cadeiras ainda deixam muito a desejar. Tem essas plantas aqui que já estão bem altas e ninguém veio aparar”, evidencia.
Conforme afirma o aposentado, a praça XV de Novembro é um dos poucos lugares remanescentes para esse tipo de atividade que se encontra em um espaço público e ao ar livre, portanto, faz um apelo por uma maior atenção e cuidado.
s do ND compartilham estratégias para estimular a cognição 3r3u6u
do jornal ND há oito anos, Clarice Rosa do Amaral, 68, revela que adora as palavras cruzadas que estão presentes nas edições diárias.
De acordo com a aposentada, esses estímulos são significativos para o cérebro, algo que percebeu como necessário devido às sequelas que enfrentou após contrair a Covid-19.
“Eu procuro fazer joguinhos com palavras e números para ativar bem a memória. Eu tive a Covid, que me levou para uma UTI, e quando me recuperei, percebi que fiquei muito esquecida, o que me alertou ainda mais para atividades que estimulem a memória”, conta Clarice.
Segundo ela, o esquecimento por conta do Covid é algo que atingiu não somente ela, mas também muitas pessoas do seu convívio.
“Essa doença foi muito triste e vejo que afetou a memória de muitos, até nos mais novos. Então, mais do que nunca, precisamos colocar a cabeça pra funcionar, e palavras cruzadas são ótimas para isso. Se já é uma atividade que gosta, que é prazerosa, então tem que fazer mais ainda se traz benefícios”, diz.
E de fato, no dia a dia, a aposentada percebeu na prática as vantagens desses exercícios cognitivos.
“À medida que eu fui praticando, eu fui memorizando, e à medida que eu fui memorizando, fui relembrando muitas coisas que eu havia esquecido, e preciso disso para colocar sempre o meu cérebro em ação. Isso foi o que me ajudou a trazer a minha memória e a deixá-la sempre ativa”, demonstra.
Outra estratégia adotada por Clarice é a leitura. Conteúdos trazidos pelo ND sobre cultura e hábitos manezinhos foram algo que a agradaram e a levaram a ler com afinco.
“Mais coisas que o jornal tem que eu gosto são os contos da Ilha, do manezinho. Tem muitas coisas boas no jornal que são da nossa cidade, das nossas origens, como são as nossas praias. Todos esses conteúdos que trazem a memória da nossa terra são muito bons e eu adoro ler, acho muito positivo”, declara.
Já Bernadete Limongi, 72, do jornal há seis anos, conta que apesar de praticar as palavras cruzadas do jornal, para ela, aprender uma nova língua é uma ótima forma de estimular o cérebro.
“Eu tenho um grupo de amigas que todas estudam francês, algumas delas já deram aula inclusive. Então para deixar o aprendizado mais dinâmico, fazemos um jogo de perguntas sobre conhecimentos gerais em francês.
Isso uma vez por mês e é muito bom para todas nós, porque é o que realmente mais estimula o nosso cérebro”. Para a aposentada, a leitura também é um hábito prazeroso e que carrega ótimos benefícios.
“Eu já li muito mais, inclusive o WhatsApp tem tomado muito o meu tempo, mas sempre que posso leio”, conta Bernadete.
Ela enfatiza que a saúde mental sempre foi uma preocupação e acredita que os cuidados nessa área devem ser tão significativos quanto os cuidados com qualquer outra parte do corpo.
“Também gosto de jogar buraco, apesar de o meu grupo estar custando a voltar desde que paramos por conta da pandemia, e ir ao cinema, assistir documentários.
É para isso que mantenho essas atividades, para a minha saúde mental. Adoro também fazer coisas prazerosas, se tiver um concerto, uma peça de teatro, eu vou, porque acho extremamente importante para a nossa saúde”, finaliza.
De xadrez a Super Mário: estudos mostram os impactos de jogos no desenvolvimento dos cérebros de idosos i764
A estimulação cognitiva em idosos através do xadrez e outros jogos de dilema foi apontada em estudos. Segundo o INS (Instituto Nacional da Saúde), o esporte tem papel importante na prevenção do Alzheimer.
Um artigo científico publicado pela Revista Mundi em 2021 usou como base relatos de experiências por meio de entrevistas com psicólogos e professores de xadrez, em aulas semanais dadas a pessoas com mais de 60 anos em São Paulo.
Os resultados mostraram efeitos cerebrais e sociais. Os estudiosos observaram estímulos e intervenções em relação a memória, flexibilidade mental e controle inibitório dos idosos.
Além disso, os alunos relataram o xadrez como fator de aproximação com os netos, que aproveitavam as partidas para ensinar regras e contar histórias de vida.
Mas o desenvolvimento do cérebro entre pessoas da terceira idade não foi constatado apenas no xadrez, outros diversos tipos de jogos podem ajudar.
É o caso, por exemplo, das palavras cruzadas e jogos de enigma. A escola de medicina da Universidade de Exeter, na Inglaterra, divulgou em 2017 um dos maiores estudos nessa área, que apontou a melhora das condições do cérebro dos indivíduos que têm essa prática como costume.
Nesse estudo, foram avaliadas 17 mil pessoas de 50 anos ou mais, com sistemas de testes cognitivos.
A conclusão foi de que os participantes mais envolvidos com enigmas de palavras realizam tarefas diárias com maior atenção, raciocínio e capacidade de memória.
Os resultados do estudo mostraram também que a prática desses jogos pode colaborar para uma função cerebral até dez anos mais nova do que a idade real do indivíduo.
Só que os estímulos aos cérebros dos idosos não precisam vir só de tabuleiros ou páginas de revistas e jornais.
Os videogames, que por vezes são os “vilões” dos avós, podem também ser um de seus principais aliados. No Canadá, a Universidade de Montreal constatou que o game “Super Mário 64” contribuiu para o desenvolvimento de pessoas entre 55 e 75 anos.
Os cientistas recrutaram um grupo para jogar Super Mario 64 durante 30 minutos por dia. O estudo levou seis meses e incluiu diversos testes cognitivos e ressonâncias magnéticas.
Os resultados mostraram que o grupo teve aumento de massa do hipocampo, do cerebelo e apresentou melhoras na memória de curto prazo.