Pesquisadores da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) identificaram um híbrido entre um cachorro doméstico e uma raposa do pampa.
A espécie foi resgatada após um atropelamento registrado na cidade de Vacaria, em 2021. Ninguém imaginava que seria uma “fusão” entre as espécies. As informações são do portal Mega Curioso.

O artigo que relata o caso destaca que a espécie era tida como uma raposa do pampa, muito comum no estado gaúcho. No entanto, o Centro de Conservação e Recuperação de Vida Selvagem detectou que as características fenotípicas do animal não eram compatíveis com nenhuma das espécies de caninos silvestres conhecidas no estado.
Vários detalhes levantaram suspeita: a pele escura, que se distinguia das tonalidades brancas ou avermelhadas das raposas da região, o formato das orelhas e tamanho. O animal também apresentou comportamento estranho, recusando ração, mas latindo como cachorro.
Testes genéticos e cito-genéticos, a partir da biópsia da pele do animal, ajudaram a entender a origem dele: o animal é híbrido entre cachorro doméstico (Canis lupus familiaris) e a raposa do pampa, também conhecida como graxaim (Lycalopex gymnocercus). A fêmea híbrida possui 39 cromossomos de cachorro e 37 da raposa.
Animais híbridos que “surgem” de espécie do mesmo gênero (como o vira-lata) são comuns. No entanto, quando o assunto é espécies diferentes, não é tão fácil: a diferenciação gera barreiras reprodutivas que são dificilmente ultraadas.
“Este foi o primeiro caso de híbridos entre caninos registrado na América do Sul. Na América do Norte e na Europa, casos envolvendo espécies de lobo e cães domésticos já haviam sido registrados”, destaca a reportagem do Mega Curioso.
Pressão urbana pode ter colaborado para acasalamento entre raposa e cachorro 593z63
Os pesquisadores apontam que o efeito dos seres humanos sobre o habitat das espécies selvagens, provocando a diminuição das matas, pode ter contribuído para a fusão. “Os caninos precisam se aventurar cada vez mais perto de aglomerados urbanos, onde a população de cães domésticos é grande”, destaca.
O estudo cita que mais pesquisas são necessárias para comprovar se o indivíduo híbrido é capaz de se reproduzir. A família Canidae é originária da América do Norte e se espalhou em várias espécies ao longo de 40 milhões de anos. Atualmente são 12 gêneros e 36 espécies de animais.
Estima-se que os gêneros Lycalopex gymnocercus e Canis lupus familiaris tenham se distinguido há pelo menos 6 milhões de anos. Além disso, a ocorrência de um híbrido pode ser perigosa, pois torna os indivíduos silvestres suscetíveis a uma série de doenças para as quais os cães domésticos já criaram defesas.