Um novo estudo publicado nesta quarta-feira (14) sugere uma descoberta e tanto para a ciência. Isso porque as teorias de acasalamento das cobras “caem por terra” com a descoberta.
Publicado pela revista “Proceedings of the Royal Society B”, cientistas detalham que as cobras têm não apenas um, mas dois clitóris individuais. Segundo a revista, o estudo é a primeira descrição completa do clitóris em serpentes fêmeas.
“Os dois hemiclitores (clitóris) individuais são separados medialmente por tecido conjuntivo, formando uma estrutura triangular que se estende posteriormente”, cita o estudo.

A publicação fez críticas aos anos de pesquisa comparativamente limitada sobre os órgãos sexuais femininos em animais. Para eles os estudos anteriores confundiram os órgãos com glândulas odoríferas ou versões subdesenvolvidas de pênis.
“A genitália feminina é visivelmente negligenciada em comparação com suas contrapartes masculinas, limitando nossa compreensão da reprodução sexual em linhagens de vertebrados”, escreveram os autores do estudo, segundo o jornal The Guardian.
A principal autora do estudo e estudante de doutorado na Universidade de Adelaide, Megan Folwell, disse também ao jornal que “há um enorme tabu em torno da genitália feminina” era um fator potencial para o fato de o clitóris de cobra não ter sido descrito anteriormente. “Acho que é uma combinação de não saber o que procurar e não querer”, disse ela.
O estudo sugere que os órgãos sexuais “têm significado funcional no acasalamento” nas cobras. Embora sejam necessárias mais pesquisas sobre o comportamento das cobras, Folwell disse que a equipe teorizou que os hemiclitores “poderiam fornecer algum tipo de sinalização de estimulação para relaxamento e lubrificação vaginal, o que ajudaria a fêmea na cópula, potencialmente evitando danos causados por aqueles grandes ganchos e espinhos hemipênis durante o acasalamento”.
Prazer nas cobras 60521r
O biólogo Jackson Preuss, explicou ao ND+ que a descoberta pode sim significar que as cobras fêmeas, assim como outros animais, podem sentir prazer no acasalamento.
“Com a descoberta podemos ver o acasalamento das serpentes com outros olhos. Imaginávamos que o macho forçava a reprodução e agora sabemos que a fêmea precisa ser estimulada”, conta.
Segundo o biólogo, o estudo sugere ainda que o ato das cobras se enrolarem no acasalamento seja uma forma que os machos usam para estimular as cobras e seduzi-las.

Os pesquisadores dissecaram 10 cobras de nove espécies, incluindo a píton tapete, a víbora e o mocassim mexicano.
“Alguns dos clitóris são bastante musculosos e grandes – digamos, em víboras – mas eles são muito finos, esticados e pequenos em algumas outras cobras”, disse Jenna Crowe-Riddell, coautora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado em neurobiologia na Universidade La Trobe. Os tamanhos variam de menos de um milímetro a sete milímetros.
O estudo descobriu que os hemiclitores são compostos de tecido erétil que provavelmente incham com sangue, bem como feixes de nervos que “podem ser indicativos de sensibilidade tátil, semelhante ao clitóris dos mamíferos”.
“Agora que sabemos que isso está aqui, sabemos como é, sabemos que há tecido erétil com nervos – não podemos deixar de pensar: por que isso não seria por prazer?” disse Crowe-Riddel. “Acho que vale a pena abrir essas questões para as cobras.”
O estudo vem depois que um resumo de pesquisa apresentado nos Estados Unidos no início deste ano disse que o clitóris humano tem entre 9.850 e 1.100 fibras nervosas – cerca de 20% a mais do que o número amplamente citado anteriormente de 8.000, que supostamente veio de pesquisas realizadas em vacas.