O biólogo João Miguel Alves Nunes, mestre em ecologia e comportamento animal e doutorando em neurociência de répteis, adotou um método inusitado para investigar quando e por que as cobras peçonhentas atacam. Ele pisou em 116 cobras, repetindo o procedimento 30 vezes em cada uma, somando um total de 40.480 “pisadas”.

Em entrevista ao ND Mais, o pesquisador contou ter usado 116 serpentes para realizar a pesquisa. “Eu pisei próximo às cobras e também as toquei levemente com o pé,” explica. “Evitei colocar todo o meu peso sobre elas, garantindo que não fossem machucadas”, completou o biólogo.
Utilizando botas especiais de proteção, seu método de pisar diretamente ou muito próximo aos animais permitiu-lhe saber mais sobre suposições comuns de que jararacas só mordem quando são tocadas.
Pesquisa se aprofunda no comportamento das cobras 2i5a53
No método de pesquisa, João Miguel descobriu que as filhotes fêmeas de cobras em temperaturas mais elevadas demonstram maior agressividade.
“Quando você pisa na cauda do animal, é mais provável ser atacado do que ao pisar no meio do corpo ou próximo à cabeça,” explicou.
O pesquisador também aborda os diferentes comportamentos desses animais, como se apresentassem diferentes personalidades. “Algumas cobras podiam ser tocadas várias vezes sem atacar, enquanto outras atacavam imediatamente ao menor sinal de aproximação”.
Os métodos da pesquisa foram divulgados na respeitada revista científica Nature, ganhando destaque na comunidade acadêmica.
Consequências do método de pesquisa 1k212
Na entrevista, João revela que durante o período da pesquisa descobriu que era alérgico ao antiveneno e às toxinas das cobras, enfrentando quatro incidentes com esses animais. Um deles foi grave e resultou em uma necrose na ponta de seu dedo.
Uma das picadas desencadeou uma anafilaxia, uma reação alérgica séria, levando-o a decidir não lidar mais com serpentes peçonhentas, deixando os cuidados dos animais sob a responsabilidade do técnico do laboratório.
Curiosidade sobre as serpentes do sudeste 2r1p3o
João também explica que as jararacas da região sudeste do país são maiores do que as do litoral do estado de São Paulo, devido às diferenças na alimentação. “As jararacas do litoral se alimentam mais de anfíbios, enquanto as do planalto consomem mais mamíferos”, esclarece.
O pesquisador conclui com algumas orientações sobre como agir ao avistar uma cobra.
“A melhor recomendação é manter distância e irá-las de forma segura. É importante chamar o corpo de bombeiros para fazer a retirada segura desses animais. Se possível, tire fotos, pois isso pode ajudar os biólogos a analisar possíveis novos comportamentos,” concluiu o pesquisador João Miguel.